Meu Caro Secretário de Estado,
E Amigo, como assim entendo, que também me possa considerar como tal.
Eu sei que conhece um pouco de Abrantes, meu caro. Andámos pelo Norte e pelo Sul do concelho, e pela cidade, nos idos de 2009. Hoje é Secretário de Estado da Administração Interna e encarregue do pelouro dos Bombeiros e Protecção Civil.
Talvez estivesse descansado com a lista que os seus colaboradores lá no Terreiro do Paço já haviam agrupado por distritos, com os destaques e as cores convencionadas, e os títulos pomposos e burocráticos, que o Amigo sabe que eu abomino, se calhar por mau feitio ou defeito, mas que volta não volta, verifico que esse meu azedume ainda devia ter sido mais cruel e feroz contra certas burocracias bafientes e manteigueiras, que agora deram na morte da bombeira Paulina Pereira, dos Bombeiros Municipais de Abrantes. Mas cuidado, meu Amigo, que Agosto ainda não irrompeu com o grosso dos incêndios.
Tudo isto, para servir de introdução ao mais terrível dos acontecimentos, que a minha inteligência e esta minha perspicácia felina, não deixou escapar por entre o encolher de ombros desses lacaios e vadios que se dizem bons cidadãos, mas acabam por nada fazer, nem nada criticar, manietados pela cobardia da conveniência e do "politicamente correcto".
O que eu quero escrever tem a ver com " A morte da bombeira no cumprimento de uma ordem estúpida".
Eu sei que vai torcer o nariz, mas dar-me razão, como da outra vez quando o Dr. Paulo Portas o enviou ao meu encontro e almoçámos no Califa. Havia quem não me quisesse candidato à Câmara de Abrantes. Apreciei muito a sua prudência e a sua ética. Imagino as dificuldades por que passa, nessa missão terrível, com a Protecção Civil.
Voltemos à carta. Tinha havido de véspera um grande incêndio ao lado, no concelho de Ponte de
Sôr. Mas só às 15 horas veio a "ordem estúpida" para sair do quartel no centro
de Abrantes, um carro com 40 mil litros de água, para reabastecer outros carros
em Vale das Mós, uma freguesia a cerca de 25 kms da cidade.
Nenhum dos
subscritores de tão grandioso Plano Operacional e Municipal de Combate aos Fogos
Florestais, - sim é verdade, deve já estar aí nessa pasta de arquivo, no Terreiro do Paço, esse Plano soberbo e pomposo.
Porém, nenhum desses ilustres proteccionistas ambientalistas se lembrou que Vale das Mós, a Sul, assenta sobre vasto lençol de
água subterrâneo, que se prolonga até ao rio Sado. Muito menos, que um
simples furo faz brotar à superfície toda a água, sem necessidade de bombas e
muito menos do esforço da Paulina e do jovem condutor, que tinham pressa de
chegar, como todos compreenderão.
Isto a Sul do concelho, porque a Norte, - naquelas margens que o "obriguei" atrás do meu carro, com a Deputada Margarida Netto, a seu lado e o meu carro cheio de militantes, naquela campanha de 2009 - percorre-se cerca de 30 kms, da cidade até à albufeira do Castelo de Bode, onde esta maravilha nos mostra mais de 60 kms de margens
ribeirinhas, com água a perder de vista.
Aí, no Norte do Concelho, quando há um fogo, lá temos os carros a virem a Abrantes ou a
esperarem pelo gigante auto-tanque da Barquinha - o "tolan" - como se a
albufeira não estivesse ali tão perto. É em cima de tudo isto, que assenta a
chamada Protecção Civil neste país, que "obriga" a haver Planos Operacionais
aprovados. E uma bombeira morreu sem saber que cumpria uma ordem estúpida,
inútil e fatal. "
João Baptista Pico
PS - Desde 2001 que venho falando e propondo um Posto Sanzonal e Móvel de Bombeiros a Norte e sem esquecer de outro a Sul, para com meia dúzia de bombeiros a retirar do Corpo dos 80 da unidade aquartelada em Abrantes, se implantar uma frente operacional de fácil e mais rápida acção para atacar toda e qualquer ignição, antes da primeira meia hora do seu início. Um carro saído do quartel, pode demorar mais de meia hora a chegar a Norte ou a Sul. Este com o jovem condutor e a malograda Paulina, já não chegou ao seu destino. A Paulina merece que a sua morte não seja em vão, meu Caro Filipe.
Ao menos obrigue a outra competência na elaboração dos Planos Operacionais Municipais. E honremos deste modo tão singelo, a Memória da Paulina Pereira.