O Bispo que um dia escreveu uma carta a Salazar, acabou por ser desautorizado e desmentido pelos aconecimentos da História. Salazar não foi um mau governante, como o Sr. Bispo quis vir dizer ao país, pondo-se em bico dos pés, e demasiado alinhado com o candidato de 1958, General Humberto Delgado, facto imperdoável, vindo de alguém da hierarquia da Igreja.
Ainda por cima, o conteúdo da carta seria hoje repudiada por toda a esquerda democrática, pois uma das coisas que o Bispo censurava a Salazar, foi não ter dado uma abertura política mais incisiva, mas apenas para os sectores democratas cristãos. Ora essa proposta nega toda a vivência democrática e pluralista.
Porém, para o Sr. Bispo isso não era importante. O importante mesmo, teria sido Salazar ter dado a preferência aos católicos democratas cristãos, para assim, no dia em que houvesse democracia plena, esses democratas cristãos já levarem dianteira diante de todos os outros partidos.
Uma iniquidade!
Repare-se, que tudo terá girado à volta do figurino das festas desse ano. E ao que parece, o próprio Bispo terá fixado as regras no sentido de separar as festas religiosas das festas civis. Foi uma situação que se iria repetir muitas vezes. Só que em 1952, ainda com as feridas da subida das águas da albufeira do Castelo de Bode, bastante frescas na memória da população, o que era preciso era haver festa para libertar o povo das agruras da vida.
Porém, a Igreja pensava de forma diferente. Uma mesquinhez, todo este processo.
Depois o Bispo entreteve-se nesta carta enviada ao Major Machado, em mostrar toda a sua arrogância, chegando a admitir que podia já ter resolvido o assunto, mas não o fez porque não quer afastar o pároco, diante desse clima desfavorável. Um gesto desta natureza, face aos tumultos expectáveis, não parece ser a melhor resposta de ninguém, e muito menos de um chefe da Igreja.
Esta carta envergonha a Igreja. Mostra como o Bispo não foi capaz de descer ao terreno. Mostra um Bispo indiferente ao ambiente de clara perturbação psicológica que se vivia na freguesia que acabava de dar vastas encostas das suas terras para ficarem submersas pela albufeira. Nada disto o comoveu.
Em resultadao, lá tivemos uma extrema crueldade, quando atacou a população em geral, com termos tão infelizes, como nunca se terá registado por Abrantes.
