Publicou esse jornal uma passagem do blogue "Zé da Cachoeira", antes de ficar "silenciado", onde se aludia a três personagens de ficção " Picador do Norte" " Paulinho Portadas" e "Lacãozinho", que pessoas das minhas relações muito se divertiram com as graças e comigo especularam com insinuações e adivinhas sobre quem era o verdadeiro autor do blogue.
Dizia palavrões, mas naquele recorte o distinto Director usou de grande discrição e não colocou nada dessas ordinarices habituais do " Povo que se Foda", " nem daqueles cães que costumavam cheirar os filhos dos outros cães julgando serem seus filhos", termos injuriosos como esse das "ratazanas miseráveis que abundam pelas cloacas" , nem daquele outro "amigo que privava connosco à mesa e trazia o colarinho pejado de piolhos"... O que mostra o "estômago" de alguns que ainda conseguiam estar à mesa com o parceiro, apesar dessa postura imunda, caso fosse verdadeira essa mesma calúnia reles...
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Não. Honra lhe seja feita, Sr. Director, que nesse aspecto foi muito prudente e brincou com uma história engraçada, mas absolutamente inverosímil, segundo a qual, um tal "Picador do Norte" que havia trocado postais de boas festas com o "Lacãozinho" dando a entender que tudo se processava como estivesse iminente uma aliança por Abrantes à semelhança do que "Paulinho Portadas" ensaiava fazer com o PS a nível nacional...
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Sr. Director confesso que ainda pensei escrever a dizer-lhe que tal história não correspondia a nada de verdadeiro e só podia ser ficção, mas cedo percebi que ninguém iria levar como séria essa anedota do blogue. E deixei que a poeira assentasse. Ingenuidade a minha, pois o apetite de um recém chegado cedo mostrou o lobo debaixo da pele de cordeiro e logo distribuiu ao Sr. Director os maiores e mais indignos impropérios.
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Todavia, vendo as insinuações que V. Exª sofreu, naquelas alusões ao Palma Cavalão esse Director sinistro que na linguagem de Eça de Queirós ( vejam bem aonde é que o ensino já chegou, pois ainda há professores sem avaliação - só pode ser - que recomendam autores desses para serem lidos nas escolas e ao mesmo tempo condenam quem usa o estilo do Eça e do Ramalho nas "Farpas"...), porque esse Cavalão ( que os há, há, mas mais não digo...), publicava cartas anónimas denegrindo da honra das pessoas públicas a troco de uns míseros cobres e amizades promíscuas.
Essa insistente alusão, repetida até à náusea, fez-me sentir na obrigação de manifestar a minha solidariedade pessoal, a V. Exª, Sr Director e afirmar que jamais passei procuração a advogado algum para me defender dessa transcrição do blogue.
Aquele advogado, se me queria defender, carecia da respectiva procuração, a menos que estivesse a agir em nome do "Lacãozinho"...
Se era assim, então ainda reforço muito mais a minha solidariedade a V. Exª. pois não quero ser cúmplice dessa outra "unanimidade" do PSD e PS...
Porque sendo eu um dos visados do Cachoeira, seria a mim que me cabia protestar ou mandatar alguém para o fazer.
Porque podendo um dos personagens (Picadsor do Norte) ter algumas semelhanças com o meu apelido e o " Paulinho das Portadas" poder assemelhar-se a um amigo que me visitou em Abril último, e que como V. Exª deve estar lembrado, esse meu amigo riu-se imenso da alusão a um "submarino" que o Zé da Cachoeira ameava trazer para o Aquapolis, quando eu lá estivesse com esse amigo...
Afinal o "submarino" não apareceu, nem o Zé se mostrou a ninguém. Mas marcou presença a sua piada...
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Zé da Cachoeira podia não ter aquela "finesse" do Bocage, nem ser tão profundo quanto o dito irmão dele, o tal que escreveu " O povo que se Foda", mas era motivo de risota geral.
Comigo, foi algumas vezes desagradável e insultuoso. Mas nunca me levaria a escrever a um Director de Jornal, nos termos em que V. Exª foi aludido e confundido. Eu tinha mais coisas para escrever e participoei no 25 de Abril, mas mesmo nesse dia do ano de 1974. Há outros que assaltaram herdades ou ainda liam o Mao Tsé Tung , aplaudiam o Fidel e idolatravam o Che Guevara...
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Perfilho da mesma sábia opinião de V. Exª quanto à Liberdade de expressão e tal como V. Exª. não me considero "cúmplice" das opiniões emitidas.
Não sei quem seja o Zé, mas se soubesse não divulgaria o seu nome, pois não posso arriscar que amanhã um jurista mais exaltado chegasse ao mando e o dito autor pudesse ser açoitado publicamente na Praça Barão da Batalha ou lá naquele sítio que o Zé designava pela Correnteza do Bruno.
Com os sentidos e curtos cumprimentos me subscrevo
Atenciosamente
João B. Pico