Cinco dias em Lisboa, e o fim-de-semana e as férias no Souto era esse o meu mundo. Assim cresci e assim fui criando as raízes à terra, que até hoje me "alimentam" a vida.
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Para quem foi levado da terra onde nasceu – da sua aldeia - aos 2 anos de idade, à partida não poderia reivindicar que se vira privado de nada.
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Para quem foi levado da terra onde nasceu – da sua aldeia - aos 2 anos de idade, à partida não poderia reivindicar que se vira privado de nada.
Mas três ou quatro anos depois, começa a entender muito bem as coisas e a terra ganha outro significado, porque estão lá os avós que lhe dão mimos, que lhe dão as frutas de que ele gosta, lhe dão os bolos. E há os primos, há os outros miúdos da mesma rua, da rua de cima, do adro, da rua do Fundo da Aldeia, do Chão da Lagoa, do Cimo das Vinhas, da Maxieira, do Caminho para a Ribeira, da Atalaia do Carril.
Depois vem a escola. Eu estou na escola na Amadora. E os outros, os primos, os miúdos da mesma rua e os miúdos das outras ruas todas estão na escola do Souto, estão na Escola da Ribeira, cuja professora é filha da terra, para quem o pai e o tio construíram a própria escola para a filha e sobrinha ser lá professora desde os anos 40, e lá ensinou também os seus dois únicos filhos, rapazes da minha idade (um advogado e outro juiz).
E ainda podiam estar na Escola do Carril, todas elas partes do Souto. Como o eram as outras oito escolas da freguesia, na altura com as duas escolas do Carvalhal, outra em S. Domingos, a das Fontes, a do Maxial, a da Bairrada, a da Água das Casas, e a de Bioucas.
Começou a escola e começou a haver lugar a férias. E lá ia eu de Lisboa no primeiro fim-de-semana das férias numa das muitas camionetas de aluguer, fretadas exclusivamente para os soutenses que trabalhavam em Lisboa e deixavam as mulheres e os filhos durante a semana na terra. Aqueles que ainda não decidiram trazer de vez a família para Lisboa, como foi o caso do meu pai e de muitos outros, cujos filhos na sua maior parte, também embarcavam comigo no mesmo autocarro ao encontro dos avós babados com os netos que chegavam de Lisboa.
E então lá se encontravam todos. Os meninos idos de Lisboa onde frequentavam as respectivas escolas da Amadora, de Benfica, de Alvalade, de Moscavide, de Loures, etc.
Mais os meninos das escolas do Souto.
Uma coisa marcante os distinguia na base. Os meninos idos de Lisboa usavam sapatos ou sapatilhas e os da escola da terra andavam descalços.
Alguns dos meninos idos de Lisboa só brincavam com outros também idos de Lisboa, porque a isso os obrigavam os mais velhos: pais e avós.
No meu caso e de mais alguns, brincávamos com todos e sem complexos de espécie alguma. Os meus melhores amigos eram os dois dos mais pobres rapazes lá da minha rua. Férias do Natal, férias do Carnaval, férias da Páscoa e depois Julho, Agosto e Setembro até ao dia 7 de Outubro, quando começava novo ano lectivo eram dias passados na terra. Foi assim comigo, até aos 13 anos.
Os meus melhores amigos, os meus amigos de infância foram os rapazes da minha rua, da rua de cima, do adro e do Fundo da Aldeia e os do Chão da Lagoa e do Cimo das Vinhas.
Depois durante a semana de aulas tinha os meus colegas da escola da Amadora. E de entre estes os que moravam no meu prédio e no prédio ao lado, a quem não podia dizer que tinha amigos descalços na minha terra, senão eles já não brincavam comigo ou os pais deles já tinham um bom pretexto para melhor desautorizarem os filhos a brincarem com o filho da porteira lá do prédio, que era precisamente a minha mãe…
Depois vem a escola. Eu estou na escola na Amadora. E os outros, os primos, os miúdos da mesma rua e os miúdos das outras ruas todas estão na escola do Souto, estão na Escola da Ribeira, cuja professora é filha da terra, para quem o pai e o tio construíram a própria escola para a filha e sobrinha ser lá professora desde os anos 40, e lá ensinou também os seus dois únicos filhos, rapazes da minha idade (um advogado e outro juiz).
E ainda podiam estar na Escola do Carril, todas elas partes do Souto. Como o eram as outras oito escolas da freguesia, na altura com as duas escolas do Carvalhal, outra em S. Domingos, a das Fontes, a do Maxial, a da Bairrada, a da Água das Casas, e a de Bioucas.
Começou a escola e começou a haver lugar a férias. E lá ia eu de Lisboa no primeiro fim-de-semana das férias numa das muitas camionetas de aluguer, fretadas exclusivamente para os soutenses que trabalhavam em Lisboa e deixavam as mulheres e os filhos durante a semana na terra. Aqueles que ainda não decidiram trazer de vez a família para Lisboa, como foi o caso do meu pai e de muitos outros, cujos filhos na sua maior parte, também embarcavam comigo no mesmo autocarro ao encontro dos avós babados com os netos que chegavam de Lisboa.
E então lá se encontravam todos. Os meninos idos de Lisboa onde frequentavam as respectivas escolas da Amadora, de Benfica, de Alvalade, de Moscavide, de Loures, etc.
Mais os meninos das escolas do Souto.
Uma coisa marcante os distinguia na base. Os meninos idos de Lisboa usavam sapatos ou sapatilhas e os da escola da terra andavam descalços.
Alguns dos meninos idos de Lisboa só brincavam com outros também idos de Lisboa, porque a isso os obrigavam os mais velhos: pais e avós.
No meu caso e de mais alguns, brincávamos com todos e sem complexos de espécie alguma. Os meus melhores amigos eram os dois dos mais pobres rapazes lá da minha rua. Férias do Natal, férias do Carnaval, férias da Páscoa e depois Julho, Agosto e Setembro até ao dia 7 de Outubro, quando começava novo ano lectivo eram dias passados na terra. Foi assim comigo, até aos 13 anos.
Os meus melhores amigos, os meus amigos de infância foram os rapazes da minha rua, da rua de cima, do adro e do Fundo da Aldeia e os do Chão da Lagoa e do Cimo das Vinhas.
Depois durante a semana de aulas tinha os meus colegas da escola da Amadora. E de entre estes os que moravam no meu prédio e no prédio ao lado, a quem não podia dizer que tinha amigos descalços na minha terra, senão eles já não brincavam comigo ou os pais deles já tinham um bom pretexto para melhor desautorizarem os filhos a brincarem com o filho da porteira lá do prédio, que era precisamente a minha mãe…