Como explicar a situação de quem privava tanto com os milionários - com Ricardo Espírito todos os domingos à conversa ao cair da noite, na residência de Salazar, em S. Bento - ao ter optado pelo pedido pessoal ao seu amigo, o padre que vinha a S. Bento celebrar a missa dominical, para que lhe emprestasse os 120 contos que lhe faltavam para comprar uma casa e um terreno para as suas irmãs em Santa Comba Dão, cujo preço rondava os 170 contos?!
Ora isto passou-se em 1954, quando o seu médico pessoal lhe detectou um problema cardíaco que o fez temer pela sua vida e o obrigou a acautelar o futuro da sua família.
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A explicação só pode ser uma: Salazar prezava muito a sua independência pessoal e sabia como eticamente, se devia comportar na vida pública: nada de misturar política com negócios pessoais.
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Ora aí está um aspecto que o jornalista não declarou explicitamente e muitos comentadores desse livro, como Mário Soares, foram levianos nas conclusões que retiraram desse convívio com os milionários.
Salazar nas conversas semanais que tinha com Ricardo Espírito Santo, não deixava de interiorizar todas as imagens do mundo e da modernidade que esse "Senhor Renascentista" lhe trazia, coisa muito valiosa para si e para a governação do país. Depois discutiam negócios, investimentos, a construção de um grande hotel ( o Ritz), o aeroporto e tantos outros grandes investimentos.
Porém, essa proximidade, não chegou ao ponto de se colocar como devedor de 120 contos, uma ninharia para o seu amigo e dono do BESCL...
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UMA LIÇÃO MUITO ACTUAL e QUE CERTOS POLÍTICOS DEVIAM ACAUTELAR, sejam como accionistas do BPN, do BCP ou de outras coisas muito badaladas por aí...