Totalizam 106 km2, convertidos em hectares ( 1 km2 = a 100 hectares) são 10 mil e seiscentos hectares. Retirando os 600 hectares - grosso modo - para espaços urbanos e regadios, ficam 10.000 hectares de floresta.
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Vejamos o que nos diz um livro recente, sobre eco-sistemas.
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«Ecossistemas e Bem-Estar Humano é uma versão completa e actualizada da contribuição portuguesa para o Millenium Ecosystem Assessment, um programa lançado pela ONU no princípio desta década e concluído há quatro anos.
O objectivo do programa global era o de avaliar como as actividades humanas interagem com os serviços que os ecossistemas colocam à nossa disposição - como produção de água ou de alimentos, protecção dos solos ou simplesmente fonte de receitas.
Uma das formas de se olhar para estes serviços é através do seu valor, em dinheiro.
"É uma linguagem que todos percebem", afirma Henrique Miguel Pereira, do Centro de Biologia Ambiental da Universidade de Lisboa, que coordenou o livro com mais três investigadores - Tiago Domingos (Instituto Superior Técnico), Luís Vicente e Vânia Proença (ambos também do Centro de Biologia Ambiental). »
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«Por exemplo, a água mobiliza um sector, o do abastecimento, que vale dois mil milhões de euros por ano.
.E para que haja água de qualidade é preciso que vários ecossistemas estejam a funcionar bem, como as florestas, os aquíferos subterrâneos ou os rios e albufeiras. Facilmente se atribui uma cifra a outros serviços dos ecossistemas.
O livro salienta que as florestas representam dez por cento das exportações nacionais. Além disso, retiram dióxido de carbono da atmosfera, ajudando a conter o aquecimento global.
Em 2007, absorveram 5,44 milhões de toneladas de CO2, um serviço que vale 65 milhões de euros, aos valores de hoje do mercado do carbono.
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Até uma paisagem pode ter um valor. Um estudo mencionado no livro concluiu que os portugueses estarão dispostos a pagar 30 euros para preservar um terço das estepes cerealíferas de Castro Verde, no Alentejo - o habitatde excelência de algumas aves ameaçadas, como a abetarda.
Ajustando-se o resultado para toda a população e para as áreas em causa, chega-se ao valor da preservação de um hectare por ano em Castro Verde: 446 euros, muito mais do que a compensação a que os agricultores têm direito (73 euros por hectares) para conservarem aquele ecossistema. A agricultura, porém, é um dos sectores que saem mal na fotografia do livro. A maioria das práticas actuais está a degradar o solo, sem conseguir suprir as necessidades de alimentação do país.
"Temos muito poucos bons solos e não temos feito um bom trabalho para os proteger", diz Henrique Pereira. Na água, o cenário é ambivalente. O país tem-na em excesso: apenas dez por cento da precipitação é utilizada. Mas, quando chega ao solo, a água confronta-se com a poluição, sobretudo a difusa, proveniente da agricultura, por exemplo.
Resultado: 40 por cento dos rios e albufeiras estão poluídos.
Com isso, a água - uma matéria-prima gratuita - passa a ter um custo adicional à sua captação e distribuição: o tratamento. "Se os sistemas estiverem degradados, vamos ter de gastar mais", afirma o investigador. O livro conclui que há uma tendência para se utilizarem mais "os serviços de produção" dos ecossistemas, em detrimento dos "serviços de regulação e culturais". Isto só poderá ser contrariado "se a sociedade se aperceber das implicações negativas para o bem-estar humano". Esperemos que sim.»
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