O uso da denominação "plano operacional" é à partida ardiloso e conducente ao logro. Valioso apenas no aspecto em que nos atira com uma caracterização da área municipal de 71 mil hectares (701 km2), onde aponta os 69 % de área florestal e 20 % de área agrícola. Paradoxalmente, logo o "plano operacional" se afasta do importante: o espaço de uso agrícola em certas fases do verão ao transformar-se em mais um foco com fortes potencialidades de ignição, facilmente chegamos aos 90 % de área com vulnerabilidades efectivas, no período que decorre de Junho a Outubro.
Esta realidade, obrigaria desde logo a estudar a forma de melhor, e mais rapidamente, chegarmos a qualquer ponto de ignição no todo municipal. O quartel na Ferraria até dispunha de uma vantagem, a altitude da sua implantação. Do alto da Ferraria avistava-se todo o concelho. A partir de ontem na Samarra tal já não é mais possível.
Se lembrar que Mação tem um Posto de Bombeiros fora da sede municipal, na freguesia de Cardigos faz-nos entender melhor as melhorias efectivas no combate aos incêndios nos últimos anos, nesse concelho.
Ora daqui resssalta, desde logo, que o concelho de Abrantes não considerou a implantação de Postos de Bombeiros, em locais estratégicos que pudessem encurtar distâncias entre o Quartel dos Bombeiros e focos de incêndio.
Paradoxalmente, lançou mão de um argumento correcto - a necessidade imperiosa de combater os incêndios nos primeiros 20 minutos é um dado verdadeiro e com resultados eficazes - mas logo o desprezou, não retirando do facto as naturais ilações. Com efeito, áreas importantes e que em 2003 e 2005 estiveram na origem dos grandes incêndios florestais que acabaram dentro da própria cidade, continuam fora do alcance dos bombeiros, nesses tais preciosos 2o minutos iniciais da ignição.
S. Miguel/Bemposta no caso do incêndio de 2003 que acabou dentro da cidade. Maxial, na freguesia das Fontes cujo incêndio varreu todas as cinco freguesias do norte do cncelho e ainda se estendeu a Rio de Moinhos, S. Vicente e Alferrarede. Oito freguesias ficaram atingidas com o mesmo incêndio que deflagrou a um sábado (18 de Agosto de 2005) às 14 horas - em pleno dia - e terminou na segunda-feira 20 com a A-23 cortada e uma frota de 100 auto-tanques em S. Lourenço, já na fase do rescaldo.
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O "plano operacional" assente nestes pressupostos, e com estas duas lacunas ( já não falando de Alvega), é um monumental logro. Cruel, quando agora a inauguração do novo quartel nos vai deixar na perigosa ilusão que as coisas irão melhorar. Ora acontece, que o quartel não resolve nenhum destes grandes problemas. Continuam a faltar dois postos de bombeiros - no norte do concelho entre a torre de observação da Medroa(Aldeia de Mato e Carvalhal e outro em S. Miguel/Bemposta, senão mesmo três já que Alvega e a Zona Industrial do Pego/Concavada mereciam um terceiro posto.
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E que três postos de bombeiros eram esses?
Um pequeno edifício - no limite minimalista uma boa tenda - um jeep com um depósito de 400 litros e um auto-tanque e seis bombeiros operacionais, reforçados por outros auxiliares e voluntários recrutados nessas freguesias mais próximas.
Com estes Postos de Bombeiros, de Junho a Outubro, já tínhamos todos a certeza e a tranquilidade de que não haveria ignição alguma onde os bombeiros não chegassem nos primeiros 20 minutos. Diria mais, com esses três postos em coordenação com o quartel central já poderiamos garantir total eficácia e não haveria foco de ignição onde não se chegasse entre os primeiros cinco a dez minutos.
Do Carvalhal/ Medroa, às Fontes - via Carregal, Souto, Atalaia, Sentieiras, Bairrad, Fontes demora-se 10 minutos. Para o Maxial acrescente-se mais 2 a 5 minutos, num total de 15 minutos.
Quando se sabem estas coisas, mais sentimos como o terror e o sofrimento de 18 e 19 de Agosto de 2005 podiam ter sido evitados. De então para cá, qual foi a política de protecção civil?
Foi a de esbanjar 3 milhões de euros à volta de um novo quartel e pouco mais! Se voltar a acontecer outra tragédia como a de 2005, já sabemos onde se falhou...
Só que a partir de 2007, apareceu a figura da responsabilidade civil pelos actos dos responsáveis público/administrativos...