No dia em que Portugal comemora 25 anos de adesão à CEE, o subscritor do documento que marcou uma nova fase para o país, Mário Soares assegura que os auxílios económicos que Portugal recebeu com a adesão à CEE e posteriormente à União Europeia só trouxeram ganhos positivos para o país. Mas avisa que é preciso muito “mais democracia e muito mais Europa” para ultrapassar o grave problema económico que o continente atravessa. Em entrevista à TSF, o antigo presidente da República disse que a UE não está bem preparada para resolver problemas “conjuntos”, porque os políticos são "fracos" e demonstram falta de “coragem e muita mediocridade”. Como exemplo recente da falta de coragem política, Mário Soares referiu a tardia decisão da ajuda à Grécia. A UE demorou três meses até chegar a um entendimento sobre a crise grega, algo que espantou o presidente do Brasil, Lula da Silva, que recentemente se questionou sobre os motivos que levaram países tão desenvolvidos a esperar tanto tempo para tomar uma atitude. Soares sublinha os comentários de Lula da Silva.
“Os especuladores estão preparados para a atacar o euro e acabar com a moeda única. E se o euro desaparece a UE desintegra-se”, afirma. Questionado sobre as grandes dificuldades da UE para resolver uma crise que começou nos Estados Unidos, Mário Soares responde que a globalização económica tem apenas um único interesse: “ganhar dinheiro”. Numa sociedade onde faltam “valores éticos e morais” e não há “regras para a globalização” o único interesse é o lucro, “principalmente das agências de rating”.
Segundo Mário Soares o plano de austeridade apresentado pela chanceler alemã, é muito “mais duro” que o nosso PEC.
Num plano nacional o ex-presidente português criticou as discussões sobre a retroactividade do IRS, afirmando ser totalmente “contra” essa medida. E apoiou o líder do PSD, Pedro Passos Coelho na redução das pensões publicas. “Têm toda a razão. Nunca concordei com o acumular de pensões. Há muitas pessoas que acumulam três, quatro pensões e isso não é moral”, relata.
Mário Soares disse ainda que as manifestações públicas na rua não vão resolver a crise: “É preciso ter projectos de trabalho para as pessoas poderem avançar.”