«Voltando à vaca fria: insulta-nos irmos pedir um bocadinho do treinador do Real Madrid. Mais, pedir da soleira da porta, com as abas do chapéu entre as duas mãos humilhadas, "que Vossa Senhoria o Sr. D. Florentino nos atenda", como numa aflição de caseiro da quinta em romance de Júlio Dinis. Teremos José Mourinho quando o pudermos ter, porque o pagámos, não porque outros, seja ele o Real Madrid, o pode dispensar por caridade. E pretender tirar a equipa nacional da depressão com este pedido de esmola, além de pusilânime é estúpido. Porque não soma, tira. Porque o futebol é também ganas e pundonor - e essa lição quem não a sabia já a podia ter aprendido com Mourinho, sem precisar de o implorar por dois jogos.»
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Para grandes males, grandes remédios.
O que é chocante é esta postura cínica defendida por Ferreira Fernandes, de fidalgo sem eira nem beira, inchado de arrogância e sobranceria, a alinhar ao lado dos colegas comentadores castelhanos da "Marca" e secundando o atrevimento daquele guarda-redes que tratou do assunto levianamente, como julgou ter dominado a fibra da bonita e talentosa Carbonero.
A postura discordante de Casilhas, asumida irresponsavelmente em público, quanto à cedência do seu treinador, "o especial one", pode vir a estragar o ambiente no balneário. Não vai ser fácil de gerir as animosidades que poderão advir numa equipa onde estão três jogadores portugueses. Como capitão da equipa, Casilhas excedeu-se e faltou ao respeito ao seu treinador.
Madaíl, o "mannager" Jorge Mendes, com a experiência negocial que os caracteriza, não deixarão de explorar isso mesmo, junto do presidente Florentino Peres. E este, pode ter dito um primeiro não para partir com outro peso negocial, sabendo de antemão, que o prejuízo de duas semanas, uma em Outubro e outra em Dezembro, com a simultâneidade de outros convocados do Real nas respectivas selecções dos seus países, pode ser muito bem recompensado a prazo, a favor de Madrid.
Bastaria pensar-se na convocatória dos seus três jogadores ( Pepe, Carvalho e Ronaldo) para um estágio alargado ou jogos particulares de preparação que antecedesse esses jogos, caso viesse por aí um novo selecionador cedento de marcar pontos e usar até ao limite o uso de jogadores. Isso é que representava um sério prejuízo para Madrid.
Esta primeira inclinação negativa do presidente do Real pode ser apenas um compasso de espera, para sossegar os adeptos e partir para a conversa com Madaíl, com maior peso negocial. Repare-se em todo o caso, que ainda não foi desconvocada a reunião.
Por outro lado, o Real Madrid, nunca deixou de manter uma postura de marketing - "os galáticos" ainda perduram - que poderia render chorudos dividendos na opinião pública em geral, junto dos emigrantes portugueses, desta forma mais entusiastas e mais alinhados com o Real por essa Europa das "Champions" e por esse mundo fora.
Tudo pode acontecer. Mas não me arrisco a atirar a toalha ao chão. Madaíl pode ter cometido muitos erros, mas desta vez está certo. E Mourinho foi o primeiro a ver o filme todo. Senão, teria logo matado a proposta pelo telefone...