«Quando rebentou o escândalo do BPN, Cavaco veio a público dizer que não tinha nada a ver com este banco. Depois, soube-se que tinha acções da SLN, que é proprietária do BPN. Nunca ninguém lhe perguntou por que não disse isso logo nessa altura e andou a fazer-se desentendido. Mas há mais questões que Cavaco nunca esclareceu, por mais que se passe a pente fino o célebre site da Presidência da República, como, por exemplo, estas:
• Não estando a SLN cotada em bolsa, aonde é que comprou as acções e a quem?
• Como é que deu a ordem de compra?
• Quem é que vendeu as acções e quem fez o preço?
• Nesse dia ou nessa semana, houve outras transacções fora da bolsa a esse valor?
Sabe-se apenas, salvo erro através do Expresso, que a família Cavaco sacou a Oliveira Costa, presidente da SLN/BPN, as seguintes mais-valias:
• Cavaco a mais-valia de 147.500 euros, uma vez que, tendo comprado 105.378 acções da SLN/BPN, a um euro cada uma, vendeu-as a 2,4 euros;
• A filha de Cavaco a mais-valia de 209.400 euros, tendo vendido as suas acções ao mesmo tempo que o pai e pelo mesmo valor (2,4 euros).
Perante as dúvidas suscitadas, é inaceitável que Cavaco se refugie em sucessivos jogos de palavras e que a comunicação social confirme que, em relação ao ainda inquilino de Belém, tem um comportamento muito suave.
2. Cavaco tem não só a obrigação de explicar como se processou a negociação privada com Oliveira Costa para a compra e a venda das acções — porque a SLN/BPN não estava cotada em bolsa — como também tem a obrigação de esclarecer se realizou outras operações com a SLN/BPN, designadamente a obtenção de empréstimos, e se foram cumpridas as condições que a lei impõe para a sua concessão.
Uma vez que tanto Cavaco como a sua filha compraram e venderam acções da SLN/BPN na mesma data, parecendo ter-se tratado de operações feitas em conjunto, o esclarecimento sobre eventuais outras operações realizadas com a SLN/BPN deve naturalmente abranger aqueles que lhe são próximos.
3. Hoje sabe-se que o banco do cavaquismo foi criado a partir dos múltiplos perdões fiscais “de favor” concedidos pelos governos de Cavaco Silva, era Oliveira Costa então o secretário de Estado do Assuntos Fiscais. A coisa teve direito, nos anos 90, a uma comissão parlamentar de inquérito, presidida por Rui Machete (do PSD), que depois surge, como que por encanto, nos órgãos sociais do BPN.
A única conclusão a tirar é que Cavaco, na sequência da derrota com Jorge Sampaio nas eleições presidenciais, pensou retirar-se da política e ir ganhar a vidinha. Depois, em 2003, reconsiderou. Para preparar a candidatura às eleições de 2006, Cavaco procurou cortar os laços às malfeitorias do cavaquismo, alienando as acções da SLN/BPN. Vamos aguardar para ver se a telenovela não tem outros episódios ainda não conhecidos. » in blog Camara Corporativa ( afecto ao governo)