Em 2005 e em 2009 falei muito da "excelência" na educação, nas actividades extra curriculares e na formação profissional. Já tínhamos um Núcleo Nersant. Porreiro, pá!
Ontem no " Prós e Contras" tivemos a verdade nua e crua: quando os alunos saem do 9º ano ou do 12º ano não sabem fazer absolutamente nada!
Façam uma estátua aos Srs. professores, aos Srs. autarcas e aos Srs. governantes. E em todas, ao longo de 308 municípios, a mesma legenda:
"Estes Srs. lixaram o país"
Aqui ficam uns excertos da entrevista retirada do site da ATEC:
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Sandra Neves, administradora técnica da ATEC
“ATEC funciona à semelhança do que representa a Autoeuropa”
Criada em 2003, a ATEC surgiu como uma plataforma de formação técnica
para dar resposta tanto à Autoeuropa como aos seus fornecedores, no sentido de
formar pessoas qualificadas que pudessem ingressar no setor. Além da formação
profissional, a ATEC também tem atividade na formação contínua dos colaboradores
da Autoeuropa e dos seus fornecedores e presta consultoria, principalmente na
área operacional. Sandra Neves, administradora técnica da ATEC, em entrevista ao
“Setúbal na Rede”, diz que o fator de distinção da ATEC é "a oferta de uma
qualificação cada vez mais integrada e interdisciplinar" e que o melhor feedback
é o facto de a empregabilidade, em algumas áreas, ser de quase 100 por cento.
Além disso, a opção pela ATEC começa a ser, “cada vez mais, uma primeira escolha
e não uma opção alternativa” ao sistema de ensino tradicional.
"Setúbal na Rede" - Como
surgiu a necessidade de criar a ATEC?
Sandra Neves - A Autoeuropa teve o seu
início em 1992 e até 1995 teve tempo para formar as pessoas que vieram a
contribuir na produção do primeiro carro. Obviamente que três anos de tempo útil
de formação para preparar pessoas para os novos desafios dos novos modelos e das
novas tecnologias, não é um tempo viável num trabalho corrente da indústria
automóvel. Por isso mesmo, surgiu a necessidade de se poder criar, com alguma
antecipação, uma plataforma de formação técnica de forma a dar resposta tanto à
Autoeuropa como aos seus fornecedores, ao nível do cluster automóvel e de ter
pessoas qualificadas que pudessem ingressar no setor com as qualificações
técnicas necessárias para as atualizações de produto que o mercado automóvel vai
sofrendo ciclicamente.
SR - Quer dizer que no
mercado não havia oferta formativa suficiente nesta área?
SN - Em termos de mercado nacional,
temos uma grande aposta na qualificação, mas podíamos reforçar a qualificação
técnica, principalmente nas novas tecnologias ligadas a este tipo de setor
industrial. E a ATEC foi um projeto piloto para poder dar resposta a estes novos
desafios e tem sido um elemento que tem trabalhado em equipa com a Agência
Nacional de Qualificações e o Instituto de Emprego e Formação Profissional na
criação de novos cursos.
SR - O que
distingue a ATEC?
SN - O que distingue a ATEC
é uma oferta ao nível da qualificação cada vez mais integrada, porque cada vez
mais a necessidade das novas tecnologias é interdisciplinar e não apenas
orientada para o setor eletrónico ou para o setor da mecânica. É uma plataforma
interdisciplinar (...) E também as sinergias com as casas mãe, como a Volkswagen, a Siemens e
a Bosch, que nos trazem uma mais valia ao nível da indústria.
SR - Como
surgiu esta parceria?
SN - Quando a Volkswagen
assumiu 100 por cento do capital social da Autoeuropa, surgiu este conceito de
não fazer sentido as empresas ocuparem-se da formação dos seus colaboradores até
estarem prontos a executar as tarefas específicas para as quais foram recrutados
na indústria. Na altura surgiu o conceito de que faz sentido recrutar pessoas
que já tenham essa qualificação à partida e que estejam prontos para integrar
este setor industrial. Houve um desacerto que foi analisado, entre a oferta e a
procura concreta na indústria, e o conceito da ATEC surgiu para dar resposta a
essa falha. A parceria da Siemens e da Bosch surgiu nessa altura porque estas
empresas sentiam essas mesmas necessidades e foi ao nível de uma parceria de
multinacionais alemãs que se achou que se devia trabalhar em equipa para dar
resposta a uma necessidade nacional, necessidade essa que seria fomentar o
futuro industrial português. Nesse sentido, a ATEC tem uma grande
responsabilidade de conseguir alavancar as bases para que esse futuro industrial
seja possível.
SR - Para além
da formação na componente técnica, também há preocupação com a componente
comportamental?
SN - Há, com certeza. Na
formação profissional atuamos de forma estruturada no saber ser, estar e fazer.
O saber fazer é a componente técnica, mas o saber ser e estar aborda toda a
envolvência da disciplina, da pontualidade, do rigor, do fazer bem e à primeira,
de eliminar desperdícios, da focagem na qualidade e na produtividade. Todas
essas orientações são integradas (...) na envolvência da formação profissional aqui na ATEC. Todos os
formandos têm uma farda que têm de manter na perfeição, há um rigor na forma de
atuar na ATEC que é um espelho dos nossos formandos e permite uma maior
empregabilidade no futuro. E o melhor feedback é a empregabilidade, em algumas
áreas, ser de quase 100 por cento.(...)
SR - Esse
rigor foi importado da cultura alemã?
SN - Esse rigor espelha a
forma de funcionamento destas multinacionais, pelo que as oficinas têm o chão
pintado de branco, que reflete o espaço da montagem final da Autoeuropa. Aquilo
que é apreendido aqui, que é ter uma bata branca que se vai ter de manter
branca, porque sinais de manchas de óleo são sinais de falta de qualidade no
produto final, são exatamente os mesmos princípios exigidos numa montagem final
de uma Autoeuropa. Somos uma continuidade daquilo que depois é mantido pós
empregabilidade, tanto na Autoeuropa como nos seus fornecedores, porque os
padrões de exigência de qualidade são transversais na cadeia de
abastecimento.
SR - Qual é o
perfil à entrada dos formandos?
SN - A título de exemplo, o
curso de mecatrónica automóvel é altamente apetecível pelas tecnologias que a
ATEC representa, pelos carros que servem de formação no dia a dia e também com
uma perspetiva da Autoeuropa por trás. Mas os critérios de entrada são muito
rigorosos, temos muito mais candidatos do que vagas, o que nos permite fazer uma
seleção apertada, tanto em termos de prova técnica como de acesso através de uma
entrevista. Não só avaliamos os conhecimentos prévios, ao nível da física,
matemática, ou de algumas áreas técnicas, mas avaliamos também a questão
comportamental, como o saber estar e o funcionar em equipa. Toda a relação
social é avaliada para melhor sucesso em termos de abordagem e de projeto que
vão ter aqui em grupo, para um melhor resultado final. Quando futuramente
trabalharem na indústria têm de saber estar em equipa e funcionar numa
organização e é isso que é também trabalhado aqui. Fora do âmbito da formação
profissional, a ATEC também tem atividade na formação contínua dos colaboradores
da Autoeuropa e dos seus fornecedores, e uma das áreas de maior destaque é a
área de desenvolvimento pessoal e organizacional, que tem sido cada vez mais
solicitada em termos de formação contínua, porque é o que marca a diferença. O
fator humano é distintivo para a boa funcionalidade ou não de um
sistema.
SR - Que
competências esses colaboradores da Autoeuropa e dos fornecedores procuram em
termos de desenvolvimento pessoal?
SN - Trabalhamos
essencialmente com os departamentos de recursos humanos das diferentes empresas
(...)Aí temos como fatores cada vez mais
distintivos o trabalho em equipa, as questões de liderança, a gestão de stress
ou a resolução de problemas. Portanto, a grande procura é cada vez mais nas
áreas de otimização, ao nível da consultoria, como nas áreas de gestão
estratégica e operacional de equipas, muito ao nível intermédio, e de como
conseguir dar resposta a situações de imprevisto, de resolução de problemas, de
gestão de stress, ultrapassar as dificuldades, conseguir solucionar e trabalhar
com a máxima performance.
SR - Além da
formação, a ATEC também disponibiliza consultoria.
SN - A ATEC tem uma área de
consultoria principalmente na área operacional, para alcançar maior
produtividade, maior qualidade ou eliminação de desperdício. É uma área que atua
muito ao nível das metodologias lean e dos princípios japoneses da
Toyota.
SR - Aplicados
onde?
SN - Aplicados, felizmente,
de norte a sul do país, principalmente no setor industrial, mas não só. Também
temos processos de otimização em áreas de serviços. (...) Temos projetos desde o Algarve a Guimarães, praticamente, e já tivemos
projetos internacionais, também com o cariz da nossa experiência e daquilo que
nos distingue, em Espanha, no Brasil e na Rússia, dentro do grupo
Volkswagen.
SR - Quer
dizer que a ATEC é competitiva a nível internacional?
SN - Os nossos formadores
servem uma plataforma de formadores internacionais destas multinacionais e isso
é um sinal do standard internacional e da capacidade de resposta nacional. A
ATEC funciona um pouco à semelhança do que representa a Autoeuropa para o nosso
país.(...)
SR - E sente
que, por parte do empresariado tradicional português, começa a haver procura por
este tipo de soluções?
SN - A ATEC tem chegado a
quem procura fazer alterações substanciais e que tenha uma visão estratégica de
sustentabilidade futura.(...)
SR - Com a
experiência vivida aqui, sente que há capacidade para o país dar a volta à
situação económica que se vive?
Sem dúvida. Os portugueses sempre souberam lidar com
estas situações e sempre souberam ultrapassar determinados obstáculos. A minha
experiência, vivida também na Autoeuropa e em termos interculturais, fez-me
aprender que sabemos lidar com muitas situações e sabemos ultrapassar muitos
obstáculos da forma mais imprevisível mas eficaz. Isso pode marcar a diferença(...)
SR - A ATEC
também trabalha essas áreas da motivação?
SN - Trabalha na parte da
criatividade, da motivação e da auto estima, precisamente para conseguir dar
resposta, desde a programação neurolinguística até à questão da expressão
positiva e toda a gestão das emoções. (...)Não
adianta remediar ou atuar duma forma superficial, porque as mudanças têm de ser
feitas de raiz e normalmente um processo de change management é uma alavancagem
mais profunda e integrada e não por passos pequenos, que não dão grande
resultado.
SR - Que tipo
de clientes procura a ATEC?
SN - A ATEC procura as
empresas mas também tem havido uma grande procura das empresas, numa relação
bilateral. Há o fator do passa palavra do fator distintivo, principalmente pela
atuação da ATEC, que é pouco típica na formação, porque temos uma abordagem
muito experiencial. Trabalha-se muito na prática, as pessoas aprendem as
temáticas durante os exercícios, não é um conceito muito teórico nem expositivo,
e através dessa metodologia experiencial há uma transferência para o dia a dia
do trabalho onde a aprendizagem ocorre e fazemos posteriormente um follow up das
aprendizagens feitas. É uma abordagem diferente e por isso mesmo somos
procurados.(...)
SR - E quem
são as pessoas que procuram a ATEC para obter formação
profissional?
SN - A ATEC dá formação
tanto a jovens como tem feito educação e formação de adultos, de há três anos
para cá, claramente como resposta a uma reciclagem técnica para uma viabilização
de empregabilidade futura. O perfil do adulto que nos procura é de quem quer
aprender uma nova profissão para poder integrar novamente o mercado de trabalho
em profissões que possam trazer empregabilidade a médio e longo prazo. E a
resposta é pelos índices de empregabilidade. Temos uma média de empregabilidade
de 85 por cento, tanto nos jovens como nos adultos. (...)No âmbito da formação
profissional, a ATEC dá resposta à dupla certificação, com o sistema escolar e a
via profissional, e os formandos fazem o exame da Câmara de Comércio Luso Alemã,
reconhecido internacionalmente. Há, por isso, três certificações que são
garantias de futuro, que poderá ser nas empresas nacionais como um passaporte de
saída para uma empregabilidade internacional.(...)
SR - Quais os
requisitos à entrada?
SN - Têm que ter o nono ou
o 12º ano, consoante estarmos a falar de aprendizagem ou de especialização
tecnológica, e têm que ter uma visão clara em termos do futuro que pretendem e
uma postura empreendedora muito clara. Aqui há sempre uma possibilidade de
procurar uma segunda via, mas claramente a ATEC começa a ser, cada vez mais, uma
primeira escolha e não uma opção alternativa. Os conhecimentos técnicos são
avaliados nos testes e a entrevista filtra a parte motivacional.»
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