Atacar a "torre" por causa de ser muita alta nunca obteve a minha aprovação. E quem criticava esse aspecto estava a esquecer que a construção em altura fazia parte da matriz fundacional de Abrantes: o Castelo estava bem lá no alto e foi com ele bem à vista que Abrantes passou a ser encarada como praça forte do reino.
O que ninguém nunca questionou foi a sustentabilidade funcional de um museu onde os milhares de visitantes teriam sempre que percorrer dez pisos, o que faria acreditar em engarrafamentos brutais de autocarros e veículos particulares a subirem até ao Jardim da República, numa primeira aproximação.
Depois, com os visitantes do primeiro autocarro a serem encaminhados para o 1º piso, - onde era suposto iniciar-se a visita guiada e escalonada piso a piso, por uma ordem de arrumação óbvia - logo surgiam os visitantes do segundo e terceiro autocarro, mais os visitantes a saírem dos seus veículos particulares.
Onde é que metíamos essa centena de visitantes ou mais?
No 1º piso, ainda por lá estavam os primeiros visitantes. Não os iriamos encaminhar para o 2º ou 3º piso, pois perdia-se a sequência lógica da visita e às tantas, já não sabíamos quem é que era do 1º grupo ou dos outros grupos.
Ficando à espera de que o 1º grupo subisse ao 2º piso, lá se passava meia hora de espera irritante, para os utentes do 2º autocarro, restando ainda os demais visitantes do hipotético 3º autocarro e dos veículos particulares.
Visitantes em fila de espera que já chegavam à esquina da Barão da Batalha. Mas que nem podiam ir ao Chave D`Ouro, sob pena de perderem o lugar na fila.
Agora imaginem o cansaço de centenas de visitantes durante horas à espera e depois a entrarem e saírem dos elevadores ao longo da subida da torre, com saídas e entradas repetitivas piso a piso, até chegarem ao 10 º piso e posterior regresso.
Tudo isto, para dar como estúpida a concepção de um museu com dez pisos de exposições.
Nestes casos, a funcionalidade da exposição ao púbico aconselhava um máximo de dois a três pisos. Obra que podia ser implantada nas caves a seguir às traseiras do Convento e mesmo prolongando o edifício até às traseiras da Misericórdia, numa cota abaixo do piso zero, culminando o cimo do edifício num magestoso terraço e esplanada para outros eventos.
Toda a gente assinou petições patuscas, sem nunca terem apontado ao problema central. Centenas de pessoas a subirem e a descerem nos elevadores para percorrerem os dez pisos era obra de tontos.
Nota: Pelo exposto, se percebe melhor a razão das críticas a Carrilho da Graça: queriam que fosse outro arquitecto o autor da obra, baixando a volumetria para metade dos pisos, o que ia dar quase ao mesmo...