Era um sábado, como hoje.
Às dez horas começou a Assembleia Geral da CIDAS, a Cooperativa de Irrigação e Desenvolvimento Agrícola do Souto, convocada pelo presidente da Mesa, José Martinho Victória.
Mais de uma centena de sócios tomaram assento no antigo balcão do salão da Sociedade Recreativa do Souto, com uma determinação e uma força de vontade, que ainda hoje me arrepia, só de imaginar tanto empenho. Não há memória de uma coisa assim.
Às dez horas começou a Assembleia Geral da CIDAS, a Cooperativa de Irrigação e Desenvolvimento Agrícola do Souto, convocada pelo presidente da Mesa, José Martinho Victória.
Mais de uma centena de sócios tomaram assento no antigo balcão do salão da Sociedade Recreativa do Souto, com uma determinação e uma força de vontade, que ainda hoje me arrepia, só de imaginar tanto empenho. Não há memória de uma coisa assim.
Coube-me a missão de apresentar e explicar artigo a artigo, todo o articulado do projecto de Estatutos da Cooperativa, que eu próprio havia preparado para aprovação. Na altura era o Secretário Geral, numa direcção presidida por Manuel Pisco e tendo como tesoureiro, João Pedro Lourenço.
No fundo, o regulamento escrito tinha por missão assegurar a todos os direitos e as obrigações dos sócios, e as definições de utilização da água a captar na albufeira e a fazer distribuir em rede de canalização devidamente dimensionada por todas as ruas da sede da freguesia, tendo como limite em cada rua, precisamente, a última habitação construída até à data da aprovação dos estatutos.
Mais: todos ficavam a saber garantidamente, até onde é que a área de rega podia chegar ( no caso, ficavam abrangidos pela rega, quase todos os pinhais na periferia do perímetro habitacional), como seria a cobrança dos consumos e qual era a quota mínima para ser admitido como sócio, antes e depois da escritura pública de fundação a cooperativa.
Com uma discussão muito assertiva, aferidos todos os prós e contras, lá fui pacientemente esclarecendo dúvidas e rebatendo argumentos contrários até ao momento de passarmos à aprovação do artigo seguinte.
Claro está, que a discussão e aprovação foi demorando, para que todos ficassem cabalmente esclarecidos das regras, ao ponto de termos que interromper os trabalhos e reatarmos os mesmos depois do almoço. Aqui, convém realçar a disponibilidade de todos, tal era o entusiasmo geral dos presentes, nesta epopeia única na terra. Depois do almoço, foi notório o aumento do número das presenças .
Recolher 2.500 contos, para construir depósitos, ( uma aéreo para 90 m3 e outro subterrâneo para 600 m3 e lançar canos metálicos da Gustavo Cuddel, desde o Fundo da Aldeia ate à beira da água junto à antiga ponte da Ribeira do Souto, montar uma jangada e levar luz eléctrica e posto e transformação até lá, era uma obra arrojada. Espanta-me ainda hoje, a enorme força de vontade e a união de todos. Um aspecto que passou ao lado de muita gente, muitos já falecidos.
A dez de Janeiro era assinada a escritura lavrada no 17º Cartório Notarial de Lisboa, na Avª Alexandre Herculano, a cargo do ajudante Mário Valente Guerreiro, para quem tive de dacilografar os estatutos para os inserir na respectiva escritura como Documento Complementar, pois pelo preço baixo da dita, não havia ajudante notarial que quisesse todo o articulado dos estatutos.
Um mês e tal depois teria que defender essa obra, cujo projecto estava ameaçado de indeferimento pelo Engº Bioucas e pelo Engº Chefe da Câmara. Foi aí que sozinho os enfrentei numa reunião na Câmara, dizendo-lhes na cara, que "nós no Souto não precisávamos da autorização da Câmara para irmos buscar a agua que inundara há muito as nossas próprias terras.
Mais: iríamos defender esses nossos direitos, e possível fosse com armas.
É claro, que nessa altura, em 1975, era o povo quem mais ordenava...
Aqui fica esta nota, que nunca constou em qualquer arremedo histórico, da " história do Souto", senão no "Jornal Correio Lisboa Zêzere", que viria a editar entre 2002 e 2004.