Frontal e com a transparência que deu mostras a todo o mundo e a quem o quis perceber neste pobre país, sempre ausente e distraído, Bento XVI trouxe bem alto a chamada Doutrina Social da Igreja de Leão XIII, que o Concílio Vaticano II e a Gaudium et Spes de Paulo Vi (1965), valorizaram, quando o Concílio " exortava os cristãos, cidadãos de uma e outra cidade, a cumprirem fielmente os seus deveres temporais ( as coisas do mundo).
E continuava a Gaudium et Spes « deve cuidar-se muito da educação cívica e política; ... Aqueles que são ou podem tornar-se capazes de exercer a arte muito difícil, mas ao mesmo tempo muito nobre, da política devem preparar-se para ela... Sem se preocuparem com o seu interesse pessoal nem com as suas vantagens materiais».
Está agora percebido - por esta última passagem transcrita - porque foi Guilherme de Oliveira Martins ( presidente do Tribunal de Contas, que o ministro Mário Lino tão bem conhece), quem transcreveu isso mesmo para o livro " Desafios à Igreja de Bento XVI", onde avultam comentários de outros pensadores e políticos, como Adriano Moreira e António Vitorino.
Vasco Pulido Valente também aborda hoje a questão na sua coluna do "Público": « vem agora dizer D. José Policarpo, que " a Igreja devia ser menos clerical". Que devia, devia. Mas será que consegue?»
Em todo o caso, alguma coisa vai passar a ser diferente e a abstenção, a fuga da participação cívica irão certamente, daqui em diante, conhecer uma inversão nesse crescente e perigoso desinteresse da população católica.
De qualquer modo a invocação da impreparação política e o sentimento de desprezo por quem a pratica, não pode agora ser encarada pela comunidade cristã da forma como era encarada ultimamente. Quem já distribui programas eleitorais às saídas de missa por essas vilas e aldeias sabe bem o que às vezes ouvia...
Por vezes com algum desprezo, manifesto por parte dos cristãos, o que não pode ser aceite por duas razões, por um lado, a tolerância e a humildade cristã a isso aconselha, por outro é a própria História da passagem de Cristo pelo Mundo, na sua derradeira Semana de Caminhada, que obriga a ponderação:
- Num domingo, foi o acenar dos ramos de oliveira. A meio da semana já carregava com a pesada Cruz. No domingo seguinte festejava-se a Ressurreição.
Tudo isto ponderado, ao cristão não é mais tolerado abster-se, não participar na vida cívica face a dificuldades de percurso, sob pena de negar o próprio Cristo.
Tudo isto, quando a Europa também não anda bem. O que até confirma a tese, o pior da CE é sempre Portugal.