Contava o poeta a dado passo, que um dia certo índio vendedor ambulante fora tentar vender cestos da sua produção artesanal a casa de um famoso e rico advogado e foi o dono da casa quem o recebeu.
-Deseja comprar-me uns cestos? - perguntou o índio delicadamente.
-Não, não queremos nada - foi a resposta algo brusca e seca do poderoso advogado.
- O quê?! - exclamou o índio, enquanto saía pelo portão a resmungar, - Quer matar-nos à fome?
MORAL da HISTÓRIA: Ao índio parecia-lhe óbvio que não necessitava de fazer sentir ao rico advogado a sua "obrigação moral" de zelar pela sobrevivência das classes mais desfavorecidas, comprando-lhe alguma da sua produção de sobrevivência. Jamais lhe passou pela cabeça, que a habilidade não estava na destreza manual dele a fabricar bonitos cestos, mas sim na habilidade negocial de fazer sentir uma necessidade extra ao advogado, para este lhe comprar aquela produção artesanal, que era ao fim e ao cabo a sua própria razão de sobrevivência...
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Esta passagem de Thoreau reveste-se de grande actualidade, não tanto em Massachusetts onde decorreu a cena, mas mais numa cidade tipo Abrantes.
Com efeito, a todo o momento se ouve falar em investimentos, sem contudo algum autarca se preocupar em adaptar o interesse desses investimentos milionários ao interesse de sobrevivência de centenas ou mesmo milhares de fregueses e munícipes incapazes de beneficiarem directamente desses investimentos, alguns desproporcionados para o meio.
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A Clínica Ofélia trará 1500 camas para a Encosta Norte da cidade; mas quantos abrantinos desempregados poderão encontrar trabalho nessa clínica?
Haverá por Abrantes, assim tantos médicos, enfermeiros e pessoal auxiliar altamente qualificado para esse efeito? E a falta de médicos e de enfermeiros que já hoje se verifica no Hospital de Abrantes e no Centro de Saúde do Médio Tejo, não irão sofrer de forte concorrência?
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Vejamos agora o Novo Hotel de Abrantes. Haverá já pessoal formado em Abrantes para responder a essa oferta de emprego?
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Isto para já não falar da Mitsubishi em crise, quando ainda há semanas atrás ia triplicar o número de funcionários, e das outras empresas no Pego.
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Aquela indiferença do advogado rico à triste sorte do vendedor índio reflecte um pouco a situação do que se vive neste país e num concelho como o de Abrantes.
Pouco importa já saber do que irão viver as pessoas, o comum dos fregueses e o comum dos munícipes.
No limite, a resposta seca do advogado, quase que podia significar que ele sabia das leis e a sua resposta negativa assentava neste fundamento legal:
- Não era "obrigado" a comprar cestos ao índio.
Tão pouco se importando com a aflição do índio ( tantos dos nossos índios, os fregueses abrantinos...), ameaçado na sua sobrevivência ao resmungar:
- O quê? Quer matar-nos à fome?
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Imaginem o que seria deste concelho se um desses advogados, que é capaz no meio desta preocupante crise de vir falar de futebol e dos três clubes maiores ( Benfica, Porto e Sporting - mais os Vitórias!!! - Guimarães berço da nacionalidade e Setúbal do irmão Bocage...), se um dia chegasse ao Largo Raimundo Soares...
Claro que, não só, não nos comprava os nossos cestos, como ainda iria proibibir-nos desse fabrico artesanal fora das Zonas Industriais...
Do direito ao abrigo de cada um com ou sem PDM, ainda nunca falou nem sei se saberá do que se trata...
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A rainha Maria Antonieta também se indignou uns tempos antes de colocar o seu pescoço ( dizem que muito pequeno...), no cadafalso da Revolução Francesa, teria ficado indignada porque o povo clamava por pão aos portões de Versailhes. E teria comentado para as suas criadas, possessa de todo, que se não tinham pão, que comessem brioches!
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Nem quero pensar naquele professor que julgou garantir um cargo Vitalício na junta e outro à porta da vereação camarária, só porque conseguiu a proeza de criar um refeitório ( com dinheiros públicos, claro), só para distribuir o leite e a alimentação escolar que recebe... Ou que tem direito a freguesia!
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As cores com que esta gente pinta as coisas e complica a nossa vida, deixam-nos estarrecidos!
Que raciocínios estes e qual a eficácia dessas avaliações de colegas para colegas?!
O nacional porreirismo em toda a linha....
Em que mãos metemos os nossos filhos e em que mãos ainda poderemos todos vir a cair?!
HAJA DEUS!