DITADURA DO MERCADO
por Santana-Maia Leonardo
Quando daqui a muitos anos se fizer a retrospectiva do final do século XX e do início deste século, chegar-se-á muito provavelmente à conclusão de que terminámos o milénio e iniciámos este sob o jugo da mais cínica ditadura de que há memória: a ditadura do mercado, a que nós eufemisticamente chamamos democracia populista.
O dinheiro (quase) tudo compra e tudo corrompe. E para se destruir um homem, manipulá-lo ou condicionar-lhe a vontade, já não há necessidade sequer de recorrer a campos de concentração ou salas de tortura. Basta tão-só uma mão cheia de dinheiro, seja sob que forma for. E quem lhe resiste fica de tal modo isolado e excluído que não pode deixar de sentir a permanente angústia e solidão da mais soturna masmorra.
Dizia Einstein, com inteira propriedade, que a mediocridade é invencível porque os medíocres são a maioria. E as democracias populistas assentam precisamente nesse princípio. Tem, por isso, inteira justificação a preocupação manifestada por George Steiner, um dos grandes pensadores do nosso século, na sua entrevista ao jornal espanhol ABC: «o império dos meios de comunicação e do mercado, o oportunismo distributivo do consumo de massas (...) podem ser muito mais perniciosos para a arte do que a censura nos regimes do passado».
NOTA: Creia, meu ilustre e precioso adversário ( já que é o único que tenho até este momento em Abrantes), que não lhe levo a mal duas coisas, que espelham bem a consistência doutrinária e a sua coerência política, pese a minha incompreensão, em perceber como ainda é capaz de condenar essa "cínica ditadura como soube magistralmente evocar nesse texto sobre a "Ditadura do Mercado", depois desse "raid" que protagonizou, como se segue:
a) O facto de ter escrito o que escreveu no jornal quinzenário, pois eu precisava de uma prova da infinita bondade do espírito cristão que animava aquele estatuto editorial;
b) O convite que endereçou no Tramagal ao meu amigo e dirigente do CDS de Abrantes, Abílio Pombinho, para pertencer à sua candidatura, o que só me reconforta duplamente, primeiro porque reconhece qualidade à minha equipa e depois, porque ele lhe deu com os pés e veio publicamente ( no programa da R. Tágide " O Muro do Barulho" de hoje), acusar o seu convite tendo ao lado outro convidado nessa ocasião, o militante do PCP, Dr. Joaquim Ervideira, que testemenhou e confirmou essa sua dupla ousadia política, de que me abstenho de classificar neste momento, atendendo à Quadra que atravessamos, realçando no entanto, a sua grande e assombrosa abertura de espírito democrático e abrangente e o seu inesgotável pluralismo político.
PS ( Post Scriptum): Estou a ponderar seriamente na hipótese de recuar e já não ir a Aljubarrota, pois a continuar com esta craveira tão elevada, eu fico-me pela praia, deito a toalha ao chão e escondo-me debaixo do toldo, com as mãos nos olhos, para não ver mais nada...
Desculpar-me-á, mas eu sou uma pessoa oriunda de famílias muito humildes de umas montanhas algures lá no Norte do concelho e só tive direito a um apelido tão pequenino que nem dá para um hífen no meio, e só por um assomo leviano é que ousei candidatar-me a um lugar, onde só têm assento pessoas de nome firmado como o de V. Exa., ilustre Candidato.