E volta-se a falar nas tecedeiras numa legenda de foto de uma amostra em Santarém organizada por meu avô, Martinho Baptista, então secretário da Casa do Povo do Souto, no início dos anos 60, cuja foto surgiu no livro " História do Souto- Um Povo...", e nada mais.
Sabe-se, que no séc. XIX algumas tecedeiras já recebiam encomendas de mantas de trapos e de algodão - as colchas de algodão com desenhos muito bem elaborados com que se cobriam as camas e engrossavam os enxovais das noivas - provenientes de famílias de posses de Tomar, do Sardoal e de Vila de Rei. Nada consta de encomendas da cidade de Abrantes. Mais tarde vieram encomendas do Pego.
Por detrás dessas angariadoras e artesãs, verdadeiras empreendedoras numa freguesia inóspita, está uma actividade que foi o ganha pão de muita gente na terra. Tudo isso, fruto da superior qualidade dos trabalhos. E assim, surgiram por quase todas as casas do Souto e cujo exemplo, só apareceu na povoação de Bioucas (deixando de fora, muitas outras povoações da grande freguesia do Souto, quando nas Fontes e Carvalhal, não surgiram tecedeiras, pelo menos com notório significado...), teares armados, onde muitas mulheres - passavam de jovens mães para filhas - tomavam a tarefa de tecerem à peça paga, para essas grandes angariadoras e coordenadoras dos trabalhos encomendados.
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As entregas periódicas representavam outra riqueza cultural, na medida em faziam participar nessa viagem aos concelhos limítrofes algumas das jovens tecedeiras que transportavam o que se designava por " levar as teias às clientes", acompanhando a chefe. No regresso, os cestos que transportaram as peças, acabavam por regressarem cheios de produtos ou bónus, em sinal de atenção e agradecimento das clientes e quiçá em jeito de sinal e princípio de pagamento de novas encomendas.
Bónus esses que constavam de carnes, pedaços de presunto, enchidos, pão caseiro, queijos, azeite, fruta e legumes. Produtos muito apreciados por quem se deslocava a pé, até Tomar, Vila de Rei ou Sardoal, com as "mestras" que levavam as "teias" às senhoras de família que as encomendavam. A importância social deste trabalho é por demais evidente e muito interessante o aspecto do empreendedorismo já revelado na época.
Posso dizer que na minha família tive umas tias bisavós e suas filhas tecedeiras, a minha bisavó Isabel, a minha mãe e uma tia foram tecedeiras também entre 1945 e 1965. Numa época em que a Professora D. Alice de Brito ensinava as meninas, mas já não acarinhava o exame da 4ª classe às suas alunas. Uma coisa que já não acontecia com a Profª D. Florinda Sabino, a mestra dos alunos do sexo masculino. Até onde é que não teria prosseguido o negócio e o empreendedorismo, se essas alunas tivessem tido acesso ao exame da 4ª classe, é uma questão que nos deixa apreensivos.
Eu próprio tenho bem presente os trabalhos de dobar lã em novelos, o vai-vem da lançadeira, o articular automatizado dos pés nos pedais - as três "apinhas" - para levantar e baixar os pentes dos teares e o bater ritmado dos pentes, a apertar as linhas do tecido, num som bem identificado pelas ruas do Souto, até ao cair da noite. No serão, o ruído já trazia incómodos à restante família e à vizinhança, que tinha que pegar na lavoura ao nascer do sol.
A actividade das tecedeiras gerava o sustento directo e indirecto das famílias do Souto. Era com aquele dinheiro que se pagavam as mercearias e os cuidados com o amanho das terras e se multilicavam as sementeiras. Estranha-se que esse aspecto empreendedor e artístico gerado naquela terra, não merecesse outro destaque nesse livro, para além de uma foto e meia página inócua. Mais um "apagão" nessa história, que não abona em nada o livro. Em devido tempo, no então centenário e genuíno " Jornal de Abrantes", não deixei de apontar essas críticas.
Porém, como em Abrantes há "trafulhas caluniadores", que não gostam que eu escreva a negar "mitos e lendas" que certos canastrões teimam em enfeitar as suas teses de fraco nível cultural e eivadas de puro cinismo, todos os pretextos lhes servem para desdenharem de um leitor atento às realidades locais.
E como sou o unico a escrever sobre acontecimentos locais e o único a debruçar-me com análises críticas sobre uma vasta gama de situações municipais, esse aspecto, em vez de merecer o respeito e o reconhecimento da cidadania, mais aguça o cobarde pretexto de vendo que só há um a fazê-lo, então há que atacá-lo, pensando que em breve estarei liquidado.
Felizmente, que este autor de blog não é um cobarde.
Felizmente, que este autor de blog é persistente e de quebrar antes que torcer, de nada valendo as pressões recebidas.
Só um caminho me guia: a verdade doa a quem doer...