O Livro do Sr.Traquina é a Bíblia da História do Souto, quer o Pico, ou o patrão dele, queiram ou não.
Se todas as freguesias de Abrantes tivessem um livro destes, o património estaria muito mais rico.
Moral da História: Se a D. Alice perseguia as meninas do Souto e as não deixava fazer a 3ª classe porque é que foi homenageada?
Ou será que só se recusava a levar a exame as meninas burrinhas?»
NOTA: ESTA NOtÍCIA é SIMPLESMENTE GROTESCA. Repitam comigo: "Homenagem espontânea do Povo do Souto", quando estamos em Julho de 1955. As manifestações espontâneas a Salazar, lembram-se?!
Nem vale a pena sublinhar a linguagem canalha de quem fala nestes termos: "a grande missionária da alfabetização dos rurais da zona do Pinhal."
Agora o mais sórdido: os quatro homens que deram prendas à homenageada eram todos construtores civis. Dois da mesma família, com o mesmo apelido e os outros dois eram sócios. Conheci-os os quatro, pessoalmente. Um foi assassinado anos mais tarde, por uma questão de acerto de contas. Estava cheio de dívidas. Era tido como informador da PIDE. Outro era legionário.
UM APARTE: Aqui o sublinhado da condição de construtores só releva a ignorância de quem umas vezes, diz todo o mal dos construtores/empreiteiros ( uma má consciência de Viterbo, o grande arquitecto Romano que era projectista e construtor, na velha escola da Arquitectura Romana). Ou por outras palavras, lembra aquela máxima popular de que todos os burros comem palha, é preciso é saber dá-la... Na ignorância daquele pormenor, aquela era a homenagem do Povo, como se o Povo fizesse homenagens...
Quanto à professora, se perseguia meninas, não sei. Não o disse. O que disse, foi que tinha por hábito não levar as alunas a exame da 4ª classe, a menos que fossem jovens de famílias mais abastadas. Coisa que já não acontecia com a colega D. Florinda Sabino que levava todos os rapazes que o quisessem, ao exame a Abrantes.
Ao meu avô (e a muitos outros) a resposta da professora, foi por duas vezes esta, triste e indigna:
Disse: «Martinho ( nem era senhor, embora o meu avô fosse mais velho), por acaso tu não tens lenha e mato para as tuas filhas acarretarem? Então toma lá juízo, para que queres que elas tirem o exame?»
ISTO DIZ TUDO!
Tanto a minha mãe como a minha tia tiraram o exame anos mais tarde, já casadas.
A homenagem do povo, foi obra e graça de quatro construtores, como o jornal descreve, sem deixar margem para dúvidas. Mais uma senhora que apareceu, irmã de dois desses construtores. Essa foi proposta ao exame da quarta classe.
Porque razão só me aparece tanto trafulha à frente, quando me viro para Abrantes?!