Do editorial de Martim Avillez no i
«E o problema é o de sempre, com a agravante de governo e oposições parecerem igualmente cegas quanto à necessidade de mudar o país.
O assertivo Medina Carreira não se cansa de lembrar que tudo o que de mal acontece à economia portuguesa se resume às seguintes (e bem simples) contas de cabeça:
25% da riqueza criada em Portugal vem da indústria,
70% chega dos serviços.
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Ora os serviços não se exportam (apenas turismo, pouco mais), o que significa que quase nada do que fazemos tem mercado lá fora.
Para financiar tudo isso, porém, precisamos de pedir dinheiro emprestado - porque há muitos anos que gastamos mais do que produzimos.
Em português das famílias, é como se alguém quisesse manter o seu emprego num pequeno comércio de esquina e, vendendo pouco, precisasse de financiamento permanente para manter as portas abertas. Pois: falência na certa.
Os estados não vão à falência, mas a consequência principal desta falta de dinheiro é a inevitabilidade de reduzir as despesas sociais. Se o dinheiro não estica, começa a ser impossível financiar défices na saúde pública ou ponderar aumentos nos subsídios sociais.
Pior: começa a ser impossível não cortar tudo isso. A não ser, claro, que se aumentem impostos ou se faça crescer a dívida. Mas aí queixam-se as classes médias trabalhadoras, que se insurgem porque o Estado carrega no pouco que ganham e pressionam o futuro dos filhos. Solução? Era isso que todos queríamos ver os nossos políticos discutir. »