Licenciados de aviário ou de galinha pica no chão dissociam conhecimentos por locais onde era suposto dar às gerações futuras ferramentas de entendimento válido e útil à cidadania e ao progresso das comunidades em que se inserem.
Quando um desses artistas do conhecimento se dá ao luxo de explanar as teses de Thomas L. Friedman - "O Mundo é Plano", uma história breve do séc. XXI, sem as citar, o que não surpreende, é claro! - de que os milhões de alunos que entram e saem todos os anos das universidades da China e da Índia, serão fortes concorrentes no mercado global, nomeadamente através da internet, está a ver o problema apenas por um dos lados da questão.
Porém, quando vê nisso uma ameaça para o futuro profissional da sua filha, e logo se apressa a dizer que não está preocupado, porque nada pode fazer, nem aconselha a filha a ficar preocupada, só confirma não tanto a ameaça civilizacional do Oriente sobre o Ocidente - cuja terminologia não pode já ser confinada a essa luta (Oriente/Ocidente), sob pena de negarmos a evidência da globalização - mas mais, atesta a predisposição doentia para baixar os braços e ficarmos parados no tempo, repetindo o que a sabedoria da resignação aldeã diria noutros tempos: não há-de ser nada!
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Pese toda a globalização, neste nosso rectângulo ainda subsistem diferenças abismais. Mesmo dentro da mesma empresa.
Numa mesma empresa de comunicação, temos três directores de jornais dessa mesma entidade. O director do maior desses jornais - o "i" - produz editoriais e outro nível de informação que suplantam os dos outros jornais (regionais e locais) nessa mesma empresa. Apesar da "globalização", da "internet" e dos milhões de licenciados da China e da Índia e da sua cereja chamada Bangalore, estas disparidades prosseguem sem fim á vista.
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Tinha que ser sempre assim?!
Não. Necessariamente, não.
Existem especificidades locais - na região do Ribatejo e na área de Abrantes - que divergem de Lisboa e do todo nacional, que estão muito longe se serem desenvolvidas. Primeiro, porque não houve quem as quisesse conhecer com profundidade, e depois, não houve a superior capacidade de as trabalhar e valorizar como potencialidades.
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Fomos agora à FIL, dizer que temos cá a água que dá de beber a Lisboa?
Aludimos a esse facto assim de raspão.
As manchetes dos jornais locais não o souberam dizer. Quando muito teimaram em "obrigar" os lisboetas a ficarem informados que por Abrantes há belezas naturais, gastronomia e acolhimento. Mas tudo dito de forma difusa, e com aquele oportunismo provinciano de quem se chega à frente e grita primeiro e mais alto do que os outros, ao jeito, de nós somos os maiores e os mais puros.
Vai a ver-se e nem projectámos ainda os esgotos para as zonas envolventes à captação da Cabeça Gorda, quando esse mesmo espaço não dista muitas centenas de metros da própria captação da EPAL, que serve Lisboa. Se Lisboa soubesse...
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Se os media locais pusessem de lado o engodo das manchetes e o enlevo panegírico dos autarcas no poder e se colocassem a pesquisar e divulgar as potencialidades adormecidas nas suas regiões, de certeza absoluta, que a consciência despertada nas populações não deixaria de ecoar pelas escolas, pelas autarquias e pela vivência local.
Os professores nas escolas não cuidam de saber o que vai pelas terras dos alunos. Despejam-lhe conhecimentos nas sebentas. Não mostram o interesse e a aplicação desse saber no dia a dia das terras desses alunos. O que constitui uma castração do saber.
Quando pego num jornal local ou regional, - outra castração - só vejo umas frases trabalhadas para distorcer os factos e gerar no leitor menos atento a ideia de que há uma autarquia esforçada a produzir o bem público, - que só esses autarcas logram descortinar o que seja esse bem público - diante de uma população ignorante, sofredora e abandonada.
"Os problemas novos" da tirada do jornalista ao lado, são uma forma castradora em si. Um logro para camuflar milhões gastos no verão que não resistiram às primeiras chuvas do inverno. Quando houve milhares gastos em estudos e projectos que não podem ficar reféns de uns escassos ralos de escoamento das águas, sem jeito nem dimensão sustentável. Rasguem-se os projectos. Porque a sabedoria e a tradição hidráulica já existiam há muito.
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Há um enorme buraco na globalização. Um buraco que poderá dar que fazer a muita gente, que o queira preencher de forma sustentável. Porque para o tapar, como quem tapa o sol com a peneira, isso já os media o fazem e mal.
Trabalho não falta...