«Era outra a Bioucas que deixaram naquele domingo o José e o irmão quando partiram para Lisboa. Foram apanhar a carreira ao concelho vizinho de Tomar, porque a carreira que servia a terra, com destino a Abrantes já havia dois meses que deixou de circular, em razão da guerra mundial ter impedido o normal comércio da importação de pneus. E sem pneus a viatura não podia circular. Talvez que ninguém por Abrantes tivesse dado pela falta da carreira e muito menos, das gentes que pudessem vir nela. Por Abrantes, as gentes do norte do concelho, do pinhal, era a gente, desdenhosamente apelidada, pelos emproados da cidade, como a gente do “mato grosso”.
Não se estranha por isso, que Abrantes nunca tivesse interiorizado a riqueza da albufeira como coisa muito sua. Limitaram-se a imitar Lisboa na captação de água para todo o concelho, mas para isso ainda precisaram de esperar cinquenta anos. E ainda assim, talvez mais pela vaidade de imitarem Lisboa, do que pela visão de saberem rentabilizar um dos seus mais valiosos recursos.
Foi nessa estranha situação que o José partira da terra. Não parecia augurar nada de bom. Todavia, o apego à terra fazia-o sempre voltar. Manhosa terra, que já o havia seduzido com o acenar do aconchego do ninho construído para os seus filhos, à imagem e semelhança do que antes fizera com os seus pais e os seus avós. Bastando essa memória firme, para tudo se perpetuar naquelas aldeias pobres, onde a miséria se fazia grandeza por uns dias em cada ano, no espaço próprio para reunir os seus – todos os filhos, que não se perdessem da terra.
Uns dias pela Consoada de Natal, pela Ressurreição da Páscoa e na alegria calorosa das muitas festas de verão. »
Não se estranha por isso, que Abrantes nunca tivesse interiorizado a riqueza da albufeira como coisa muito sua. Limitaram-se a imitar Lisboa na captação de água para todo o concelho, mas para isso ainda precisaram de esperar cinquenta anos. E ainda assim, talvez mais pela vaidade de imitarem Lisboa, do que pela visão de saberem rentabilizar um dos seus mais valiosos recursos.
Foi nessa estranha situação que o José partira da terra. Não parecia augurar nada de bom. Todavia, o apego à terra fazia-o sempre voltar. Manhosa terra, que já o havia seduzido com o acenar do aconchego do ninho construído para os seus filhos, à imagem e semelhança do que antes fizera com os seus pais e os seus avós. Bastando essa memória firme, para tudo se perpetuar naquelas aldeias pobres, onde a miséria se fazia grandeza por uns dias em cada ano, no espaço próprio para reunir os seus – todos os filhos, que não se perdessem da terra.
Uns dias pela Consoada de Natal, pela Ressurreição da Páscoa e na alegria calorosa das muitas festas de verão. »