Jorge Lacão começou como autarca em 1979, na Assembleia Municipal. Eu, em 1979, fui eleito membro da Assembleia de Freguesia do Souto (ainda com Carvalhal e Fontes), de que fui presidente. Mas debati em 1976 no Souto contra Jorge Lacão, perante uma assistência de duas ou três centenas de pessoas, que percorriam três gerações: a dos meus avós, a dos meus pais e a dos jovens que haviam atingido a maioridade por volta de 1974, como eu.
A geração dos meus avós já não está mais nesta vida terrena. E a maior parte da geração dos meus pais também já faleceu. Da geração dos jovens dos anos 70, muitos seguiram percursos de vida que fazem do Souto, um local de visita esporádica. O Souto e Fontes são hoje das freguesias com maior índice de perda de população.
Todavia, não era isso que Lacão prometia com as maravilhas do "seu" socialismo tentador. Eu bem o contrariei. E nessa altura, verdade se diga, as pessoas estavam mais do meu lado de pensar as coisas do que do lado de Lacão. São fases da vida.
Essas pessoas morreram entretanto. E dos sobrevivos, alguns já se espalharam por esse mundo fora, sem terem hoje uma opinião muito assertiva com a terra, que visitam duas vezes por ano, sem comprometimento algum de cidadania. Quando muito, são sócios ausentes de uma qualquer associação, cuja direcção está enfeudada a desígnios autárquicos, que tudo fazem para manter esses conterrâneos bem longe das vivências locais. A soberba caciqueira, é agora a matriz dominante.
Os factos vieram-me dar razão. Mas uma razão trágica, que me deixa triste, porque antevejo o agravar do problema num plano inclinado sem fim à vista.
Havia em 1976, nesse agrupamento das três citadas freguesias de hoje, 11 escolas. Hoje resta um agrupamento escolar no Carvalhal, com mais de um milhão de euros em obras o ano passado, que subsiste enquanto as Fontes ainda tiveram mais de duas dúzias de alunos para juntar aos 15 do Carvalhal e aos 4 do Souto.
Curioso, fossem os alunos das Fontes para Sardoal ou Vila de Rei e o Agrupamento Escolar do Carvalhal do tal milhão e tal de euros de 2009 - o ano passado, ainda... - já estaria entre as 900 escolas com ordem de fecho do governo onde, o mesmo Jorge Lacão, ainda está ministro!
E está ministro usando o mesmo jogo de palavras de 1976: não evoluiu nada. Quando muito, recolhe os mesmos 8 ou 10 mil votos do "clube"somou cargos desde 1976 e capitalizou reformas e benesses, que em coerência com o socialismo que tanto defendeu, o obrigava a abdicar de todas essas espúrias marcas do mais abjecto modelo capitalista, repudiado pelo mais berrado slogan da década de 70:
- " contra a exploração do homem pelo homem."
Jorge Lacão já nem deve lembrar-se disso, senão ao acordar no meio de algum pesadelo.
Jorge Lacão prefere argumentar com estas frases contraditórias, que preenchendo conteúdos demagógicos, ninguém costuma censurar na imprensa dita "livre e pluralista".
Como ontem na Assembleia da República, a propósito do fecho de escolas com menos de 20 alunos, que irá afectar 20 mil crianças em Setembro, em seguimento às palavras tolas do seu camarada deputado do PS.
«O deputado socialista Bravo Nico argumentou que a probabilidade de insucesso escolar é maior em escolas sem bibliotecas, sem centros de recursos, sem refeitórios adequados: "Há crianças nas mesmas escolas dos pais, ainda a escrever nas ardósias dos seus pais e com as suas réguas”.E logo, o ministro dos Assuntos Parlamentares, Jorge Lacão, sustentou que a medida "contribui para a qualidade pedagógica das escolas e que apenas abrange 3% ou 4% do total dos alunos do básico”.»
DE MESTRE!
Cinquenta anos após o ensino obrigatório decretado por Salazar em 1960 e aumentado pelo mesmo, para seis anos em 1967, no seguimento do Plano dos Centenários com a construção de 7 000 escolas e 12.000 salas de aula, no modelo "nacionalista" dos arquitectos Raúl Lino e Rogério de Azevedo, - hoje desvirtuado pelo modernismo dos modelos nórdicos - há um deputado socialista que falho de raciocínio, ainda não percebeu que se os alunos de hoje, ainda continuam "a escrever nas mesmas ardósias e com as mesmas réguas dos pais", é porque os dinheiros públicos dos últimos 36 anos foram desviado para outros fins, e nunca por culpa de Salazar. O mesmo Salazar responsável pelas toneladas de ouro deixadas no Banco de Portugal, de hoje ainda restam 12 mil milhões de euros! Apliquem-nos nas escolas de saber!
Porém Jorge Lacão, sempre demagogo quanto baste, também não se saíu melhor, ao pretender garantir uma melhor qualidade pedagógica das escolas, para acabar por reconhecer que essa medida - gratuita e mal ponderada - apenas afectava 3 % ou 4 % dos alunos.
Bonito. Se a medida só atingia 3 % ou 4 % dos alunos, então, desde logo se comprova que era desproporcionada. Não era com com a desgraça de vidas, dos 4 % dos alunos, que iria construir uma sólida melhoria da qualidade pedagógica.
Ora, o mais triste de tudo isto, é que eu em 1976 já não augurava nada de bom neste tipo de raciocínios expressos no Souto. O futuro veio confirmar o pior.
Este mesmo Jorge Lacão, no fundo, nunca deixou de repetir os mesmos erros e as mesmas incongruências de sempre... Que nos levou vidas e sonhos perdidos para sempre. Essas contas estão para apurar. Não sei se há calculadoras que cheguem...
E Abrantes que o diga! Ai...Ai...