O grande incêndio de 18,19 e 20 de Agosto de 2005 provou o vazio de todo os planos ou ideias de fazerem Protecção Civil, que viviam de fantasias e de palavreado falso.
Nas duas semanas anteriores em redor do Carvalhal, que esteve com as suas tradicionais festas de verão ocorreram vários focos de incêndio. Mandava o bom senso que no fim de semana de 18 e 19 com festas no Maxial (Fontes) e no Souto e na semana seguinte na Carreira do Mato, que se desse especial vigilância à zona.
Merecia ou não estar de vigilância permanente um jeep e um auto-tanque, por mais pequenos que fossem, quando era expectável novas ignições?
Só quem quisesse tapar o sol com a peneira, poderia negar essa evidência.
Num relato muito sucinto diria que às 14 horas do sábado 18, deflagrou a ignição no Maxial. Muitos populares mobilizados sem meios capazes, e o incêndio passou para a Portela, Cabeça Ruiva, subiu às Fontes ao Vale da Bairrada, Carrapatoso, desceu às Sentieiras e aí já lá estavam às 18 horas os bombeiros a pensar que mal o fogo subisse das Sentieiras para o Carril ou Atalaia o poderiam lá dominar. Meios aéreos não chegaram nesse sábado e o fogo subiu à Atalaia e ao Carril.
Entre a meia-noite e as duas da manhã galgou da Atalaia até à Srª do Tojo, à Brunheta e ao fundo da Ribeira do Souto, ameaçando a zona abaixo do Cemitério do Souto. Vivi todas essas horas com a convicção que não havia plano algum e a protecção civil era um embuste, com bombeiros (poucos nesse sábado) a ocorrerem onde ouviam mais gritos, sem uma linha de actuação eficaz e planeada. Pareciam tão impotentes e tão desnorteados quanto os fregueses.
Domingo às sete da manhã, vejo o primeiro heli a vazar água para um fogacho no alto da Atalaia, onde já tudo arderam de véspera e chamo a atenção para um arvorado dos bombeiros, que não tinha meios de informar o heli para ir ao único local onde era preciso: a frente de fogo que "marinava" em braseiro pronto a reacender-se e a subir das margens da albufeira por meio quilómetro até chegar ao Fundo da Aldeia, ao adro da Igreja, à Milheirice e ao cemitério do Souto.
Essa perigosa frente de fogo foi mantida abandonada à sua sorte até às 11 horas. Fiz telefonemas para o Apoio às Freguesias e gabinete de emergência da câmara e telefones particulares que possuía. Num deles fui "convidado" a deixar-me de "campanhas partidárias"!!! Porque o fogo estava a ser combatido(??!!). Viu-se!
Depois das 11 horas chegou finalmente um avião a combater as chamas já em cima das casas do Fundo da Aldeia, do adro e da Milheirice. Dezenas de carros particulares dos habitantes em sobresalto, estacionados no adro podiam gerar um incêndio de carros em cadeia. Um perigo terrível. Seria o fim do centro do Souto.
O fogo caminhou para a Ladeira da fonte do Souto, e num ápice fomos todos até ao Cimo das Vinhas porque se de lá prosseguisse o fogo, então Bioucas, Maxieira e Carreira de Mato iam logo a seguir.
Encontramos-se lá um grupo de homens jovens e maduros, duas gerações que munidos de enxadas e de ramalhos enfrentámos todos os pequenos focos que pululavam aqui e ali. Um carro dos bombeiros mal apagara as chamas mais próximo das casas fazia meia volta e sem que viesse outro substituí-lo - e aquela era a grande frente mais avançada do fogo - apareceu um segundo auto-tanque daí a uns minutos mas nem fez nada porque dizia-se sem água. Os populares ameçadores obrigaram-nos a estender as mangueiras. Afinal ainda havia água para apagar os fogos que ameaçavam duas casas junto à padaria velha. Entretanto, já todos andavam indignados com o andar para trás dos bombeiros mais preocupados em regressarem a Abrantes a pretexto de irem encher os depositos...
Logo ali com tanta ]agua na Albufeira. E com as potencialidades das cooperativas de rega ignoradas.
Cerca das 13 e 14 horas o fogo caminhou pela margem da albufeira a norte da estrada de Souto para Bioucas. 2 km de estrada alcatroada, que só viu duas naquelas duas horas duas ambulâncias para recolha de acamados e doentes.
NENHUM AUTO-TANQUE "QUIS" ou recebeu "ORDENS" para lá PASSAR.
BIOUCAS ARDEU TODA À VOLTA DAS CASAS.
Eu e o meu filho depois de vermos uma "explosão" algo anormal num eucalipto ainda o fogo vinha a uns 70 metros, naquele espaço em que a temperatura sobe ao insuportável e ao sentimento de impotência e raiva, para quem só tem uma enxada nas mãos, uma bola de fogo de trinta metros de diâmetro eleva-se no ar e o fogo ganha mais 50 metros de avanço em segundos. Foi só correr para o carro e já não descemos para Bioucas, e rumei à Maxieira sempre com as chamas a avançarem nas nossas costas. Se houvesse um furo num pneu, já havia pensado, o carro continuaria de rastos...
Da Maxieira ao Carregal, entro na Carreira de Mato paro para a família dar conta que estavamos a salvo e corro para o Largo da Igreja, onde já o fogo se aproximava vimndo de Bioucas, e da Maxieira pelo o caminho de onde minutos antes pudera ainda passar de carro.
Nesse domingo à noite o fogo descia ao Carvalhal , à Pucariça à Aldeia de Mato, à Medroa, a Martinchel à A-23, ao Paúl, à Abrançalha., à Srª da Luz, com 100 auto-tanques todos em espera do fogo no Parque de S. Lourenço.
ERA ESSE O "plano de Protecção civil" que era explicado já não sei por quantos teóricos, com o microfone na boca...
O autarca máximo - que agora já sabe falar em solidariedade e em contratos sociais e bota discurso no apoio a um candidato a Belém- já tinha chegado, horas antes, de avião a Estocolmo, em gozo de férias, disseram-me mais tarde...
Era o chefe da protecção civil municipal, mas deixara cá o substituto, o venerando vice... Nem me ocorre o nome desse vice...
Como se vê, não me ocorre também nenhum motivo para poder confiar em "Protecção Civil" desta natureza!