O coreto foi construído por meu avô Martinho Baptista e José Maria Gago |
Um Conto sobre o Souto, onde vivi os melhores momentos de Natal, quase todos até há poucos anos, sempre passados na terra.
SOUTO de ABRANTES em razão administrativa, SOUTO-SARDOAL para os CTT
Lembro-me da minha avó Maria Joaquina, que das letras apenas sabia desenhar as do seu nome, o que fazia muito bem feito e com grande precisão, me ter contado uma história que nunca ouvi mais ninguém dar conta de a saber, precisamente, quando lhe coloquei a questão de havendo um Souto Sardoal para a correspondência e um outro Souto Abrantes para a cédula pessoal e demais identificações, porque não se respeitou então, a razão da proximidade geográfica.
E a minha avó contou que essa contenda dera muitas lutas desde o princípio do mundo e só acabou em definitivo com a intervenção do corregedor e demais juízes, que determinaram que num dado momento os homens de Abrantes e os homens do Sardoal sairiam cada um da sua sede do concelho à procura das terras desconhecidas em redor, munidos de canas e bandeirolas, sendo certo, que quem chegasse primeiro marcava os limites, como terras do seu concelho.
Essa delimitação das terras ficava dependente de uma partida à hora assinalada pelo primeiro cantar dos galos, porque nesse tempo dos primórdios do mundo, ainda não havia relógios.
Explicava a minha avó, que a razão do concelho do Sardoal ter ficado tão pequeno ao contrário do concelho de Abrantes, se devia à habilidade dos senhores de Abrantes que segundo ela, sempre foram muito tunantes. O que não deixa de ser curiosa e sintomática essa opinião ao tempo, do conceito em que tinham as gentes da vila.
E que fizeram os senhores tunantes ? Trataram de antecipar o canto dos galos em Abrantes, nessa aprazada madrugada.
Com efeito, introduziram ao princípio da noite um dente de alho no cu de cada um dos galos da vila, para que o ardor não mais os deixasse adormecer. Incomodados com o ardor do alho, ainda antes da meia-noite, já todos os galos da cidade cantavam sem parar. E assim, os juízes não tiveram outro remédio que não fosse certificar essa partida em todas as direcções.
Na direcção do Norte, o avanço foi tamanho, que por pouco até teriam entrado nos quintais do Sardoal não fosse o receio de acordar os sardoalenses. Só pararam no rio Zêzere vedando o acesso aos sardoalenses que apesar de estarem bem mais perto, se tiveram que contentar em ver o Zêzere de longe, confinados ao seu cantinho.