Nota prévia: O conteúdo das quatro perguntas assentam num completo absurdo político, hoje condenado por todos os quadrantes democráticos e pela própria Igreja, quando só no Terceiro Mundo é que se toleram semelhantes prosmicuidades fundamentalistas, entre a política e a religião.
Finalizava o Bispo do Porto nessa dita Carta a Salazar:
«Em consequência e à luz de tudo quanto escrevi, condensarei aquilo que desejaria perguntar a V. Ex.ª em quatro pontos:– Primeiro – Tem o Estado qualquer objecção a que a Igreja ensine livremente e por todos os meios, principalmente através das Organizações e serviços da Acção Católica e da Imprensa, a sua doutrina social?
– Segundo – Tem o Estado qualquer objecção a que a Igreja autorize, aconselhe e estimule os católicos a que façam a sua formação cívico-política, de forma a tomarem plena consciência dos problemas da comunidade portuguesa, na concreta conjuntura presente, e estarem aptos a assumir as responsabilidades que lhes podem e devem caber, como cidadãos católicos?
– Terceiro – Tem o Estado qualquer objecção a que os católicos definam, publiquem e propaguem o seu programa, ou programas, politicamente situados, em concreto hic et nunc, o que evidentemente não pode ir sem o despertar de mutações ousadas e substanciais e do seu clima emocional?
– Quarto – Tem o Estado qualquer objecção a que os católicos, se assim o entenderem e quando o entenderem iniciem um mínimo de organização e acção políticas a fim de estarem aptos, nas próximas eleições legislativas, ou quando o julgarem oportuno, a concorrer ao sufrágio, com programa definido e com os candidatos que preferirem?» in Carta do Bispo do Porto a Salazar 13 de Julho de 1958.
NOTA: Nas duas primeiras perguntas o Bispo admite que tenha existido uma clara aposta da Igreja Católica na vivência dos problemas dos católicos à época e alude à doutrina social da Igreja, pese tenha admitido todos os entraves colocados pela governação de Salazar.
Nas duas últimas perguntas, curiosamente, o Bispo do Porto aponta para um caminho que nem Salazar lho consentiu, nem nunca a Constituição de 1976, nem os partidos políticos daí resultantes lhe permitiriam essa sua ousadia política.
Ao invés, todos o censurariam hoje, se ainda teimasse nesses seus propósitos de canalizar através da Igreja e das suas organizações clericais, quaisquer lutas políticas ou partidárias, como se depreende nessas perguntas.
Por tudo isto, e atendendo à disputa do momento [ as eleições presidenciais, com o General Humberto Delgado contra o Almirante Américo Tomás ] ninguém poderá apreciar tamanhas interferências eclesiásticas, como defendia o Bispo, querendo colocar-se, inequivocamente, como "adversário" político de Salazar.
Precisamente, a seu modo Salazar sintetizaria: " Em política, o que parece é...!"
Precisamente, a seu modo Salazar sintetizaria: " Em política, o que parece é...!"