Soube agora, que o Sr. Bispo, D. António Ferreira Gomes até desconsiderou a freguesia e os fregueses, com termos indignos e inimagináveis para um membro da hierarquia da Igreja Católica.
Um depósito aéreo, talvez o único depósito daquela envergadura
construído sem um único cêntimo dos dinheiros públicos, em
todo o concelho. E só "apareceu" 25 anos após Castelo de Bode.
Até os chamados livros da "história do Souto" passaram ao lado desta obra. Conseguiram dar a ideia que mais lhe agradava, de que foi uma conquista de Abril. Como escrevi neste blog há 3 anos, aqui reproduzo o texto.
"Verão quente" de 1975, ficou assim designado pela revolução gonçalvista...
No Souto deitámos a água da albufeira nessa "fervura"!
José Martinho Victória o único grande proprietário agrícola foi distribuindo uns papéis dactilografados a marcar uma reunião para todos os residentes da sede da freguesia, aprazada para esse último sábado de Agosto, dia 30, nesse ano de 1975.
O assunto: ir buscar a água à barragem do Castelo de Bode.
As vozes populares comentam o tema.
No dia da reunião estão na sala da Sociedade Recreativa mais de 100 pessoas. A discussão fervilha como era costume naquela terra e muito mais pelas circunstâncias revolucionárias.
Alguém desdenha da proposta, porque sempre viu a água a correr para o rio, nunca o seu contrário. Como então convencer aquela gente de que era possível 25 anos depos de inaugurada a barragem ir lá buscar a água para irrigar uma centena de hectares ou mais?!
Propus que se elegessem os nomes de uma Comissão Instaladora para estudar o assunto. Eu acreditava que era possível. Intuição minha. Sempre me guiei pela intuição.
Apurada a votação, o nome mais votado é o de Manuel Pisco o grande construtor das obras da Igreja e Casa Paroquial. O segundo nome o meu, tinha 24 anos, solteiro e bom rapaz. Depois, Adelino Branco, Comissário Manuel Pimenta e José Martinho Victória.
No dia seguinte, domingo 31 de Agosto de 1975, lá fomos os cinco atravessar a albufeira de barco de Bioucas para a Vila Nova, na Serra de Tomar, para ver como os fregueses dessa povoação de Tomar haviam feito em 1972 a dita captação de água de rega.
Depois foi sempre a andar. Estatutos que eu fiz e debati numa reunião desde as 9 da manhã até às 18 horas, com 2 horas para almoço num sábado de Dezembro e em Maio de 1976 corria a água para este depósito que os cooperantes construíram à sua custa. Nada de dinheiros públicos ou municipais.
Da Câmara a ameaça que não licenciavam e eu a bater-me frente ao Engº Bioucas e ao Engº Serafim, de que com licença ou sem licença a água iria correr nas ruas do Souto.
O povo é quem mais ordena, gritei na CMA...
A 700 metros de distância fica a água da albufeira do Castelo de Bode, na cota 121. Este depósito assenta na cota 270, 150 metros acima das águas da albufeira.
Tudo definha e morre neste concelho. Até quando resistiremos?!
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