Tomando o exemplo do Souto, tão característico de outras freguesias, desde das Fontes ao Tramagal ou Bemposta, bem podíamos dizer que este modelo "está esgotado".
Esgotado pelo fraco querer das populações, cada vez mais reduzidas em número e cada vez mais distantes de um querer colectivo, que representasse um valor acrescentado para as terras.
Esgotado pela crescente subordinação dos membros da Junta à política municipal, onde os protocolos assinados para o arranjo das valetas e uns metros de alcatrão "abafam", "amarram" e "esgotam" toda e qualquer vontade ou estratégia relevante para a terra.
Assinado o protocolo da Câmara com a Junta, os autarcas da freguesia e os próprios fregueses tratam de esfregar as mãos de contentes com a "dádiva abençoada". Por uns tempos esgotaram-se as reivindicações. Quem é pobre no pedir com pouco se contenta. A propaganda municipal logo trata do resto: abafar os descontentes fazendo-os sentirem-se uns ingratos, para que o "resto do povo" os hostilize e quiçá os despreze.
O coreto que vimos na foto foi uma obra dos anos 1940, numa empreitada levada a efeito por uma parceria da Junta de Freguesia com a Comissão de Melhoramentos, de uma das muitas festas de verão desses anos, onde possivelmente, a actuação da Junta se resumiu a tratar de recolher o deferimento tácito da Câmara. Ali não apareceu o "despacho técnico" de um arquitecto ou engenheiro municipal afecto ao gosto pessoal dos burocratas "pinasdacosta".
Os empreiteiros foram o meu avô Martinho Baptista e o José Maria Gago, sócios também na sub-empreitada da Escola da Amoreira na época.
A Igreja, outra obra local iniciada no séc. XVIII. Nos "Inquéritos Paroquiais" de 1758 já o Cura João Manuel assinalava que não sofrera danos de maior no terramoto de 1755. A torre seria construída mais em altura, e dotada dos actuais sinos, já no séc. XX, graças a meia dúzia de grandes proprietários locais, que custearam quase tudo, recorrendo-se à mão de obra oferecida graciosamente, entre os fregueses.
O modelo " Freguesia" ainda bebia muito da matriz "paróquia", com o pulsar próprio dos paroquianos, onde o pároco era um "censor" das más consciências e depravações locais, mas o primeiro a estimular as obras paroquiais. Hoje, o pároco assiste impávido, sereno, e silencioso, temendo pela partida desta vida terrena, do seu último paroquiano.
O actual modelo do Poder Local, passados os " orgasmos precoces" do pós 25 de Abril retomou ao modelo mais ignóbil e atávico do caciquismo "ultramontano" do Estado Novo.
Os presidentes de junta são por regra, autênticos "moços de recados", às ordens dos caprichos dos presidentes de câmara. E a política dos presidentes da câmara para com as freguesias seguem o "catálogo" mais mediatizado pela propaganda municipal em cega obediência à agenda partidária do edil municipal.
E não se pense que é fácil virem "movimentos de independentes" alterarem esse estado de coisas. Os "movimentos de independentes" muito dificilmente, escapam à moda partidária, porque já nasceram com os "adn" desses vícios partidários, na medida em que os seus elementos foram antes, os "enjeitados" das listas autárquicas vencedoras. E com " os vencidos da vida" ávidos de clamarem pelo "agora chegou a nossa vez", até se atropelam uns aos outros, como se tem visto. São o pior, daquilo que se já se viu com os "boys" partidários.
Ter uma "junta de freguesia" hoje em dia, é ter um "capataz" do presidente da câmara a "manietar" e a contrariar as genuínas vontades dos poucos fregueses que ainda se dão ao trabalho de pensar numa estratégia de futuro e prosperidade para a sua terra.
Uma estratégia impossível de frutificar, pois os "inimigos" são poderosos. O presidente de câmara é quem tutela as "vontades" dos fregueses. E os descontentes sofrem a hostilidade da "carneirada" mais obediente à sigla partidária.
Ora um "capataz" dessa natureza quer-se é o mais longe da freguesia. Ninguém irá sair à rua para defender um presidente de junta, que até ganha um ordenado, por regra, o "salário mínimo nacional", mas que nos centros urbanos sobem e muito em função do número de eleitores inscritos.
A discussão que aí vem está desfocada. Para se reduzir as despesas com as Juntas de freguesias não era preciso alterar a "geografia administrativa das actuais 4.260 freguesias do país. Bastava "extinguir" a fantasiosa e dispendiosa organização local assente numa junta de freguesia, às ordens do presidente da câmara e numa Assembleia de Freguesia, onde os fregueses já não comparecem mais.
As 19 freguesias em Abrantes podiam permanecer nos mesmos espaços geográficos dos 716 km2. Em rigor, se não mudarem os nomes, - e eu acho que isso é faria sair à rua as 19 " Marias da Fonte", as actuais sedes de freguesia não vão sair de onde estão.
Agora, por facilidade logística e administrativa, até podiam ter uma sala num dos muitos prédios municipais à volta do Largo Raimundo Soares e da Rua José Estevão. Sempre se tinha ali um documento mais à mão. No resto há a internet e há a secretaria da câmara municipal.
Portanto, o que estamos em rigor a falar e a querer discutir sem nexo, - e o Miguel Relvas sabe-o bem! - é de acabar com os ordenados de 1.500 presidentes de junta menos poderosos, e de 3000 secretários e tesoureiros parcialmente remunerados mais uns 15 mil a 20 mil membros das Assembleias de freguesia, que por ano recolhem 80 mil a 100 mil senhas de presença, de vários euros cada.