«Trata-se de um episódio que teria ocorrido no século XVIII, imortalizado pelos versos do escritor francês François Andriex (1759-1833) no conto "O Moleiro de Sans-Souci". Vamos a ele.
Frederico II, “o Grande”, rei da Prússia, um dos maiores exemplos de “déspota esclarecido”, exímio estrategista militar e ao mesmo tempo amante das artes, amigo de Voltaire, resolveu construir um palácio de verão em Potsdam, próximo a Berlim. O rei escolheu a encosta de uma colina, onde já se elevava um moinho de vento, o Moinho de Sans-Souci, e resolveu chamar seu palácio do mesmo modo (Sans-Souci significa “sem preocupação”).
Alguns anós após, porém, o rei resolveu expandir seu castelo e, um dia, incomodado pelo moinho que o impedia de ampliar uma ala, decidiu comprá-lo, ao que o moleiro recusou, argumentando que não poderia vender sua casa, onde seu pai havia falecido e seus filhos haveriam de nascer. O rei insistiu, dizendo que, se quisesse, poderia simplesmente lhe tomar a propriedade. Nesse momento o moleiro teria dito a célebre frase: “Como se não houvesse juízes em Berlim!”
Ora a frustação democrática dos portugueses, nestes últimos quarenta anos reside não na loucura do consumismo e das telenovelas, mas na incapacidade de se poder defender dos ´novos "déspotas esclarecidos" do pós 25 de Abril.
Nem na CE há juízes prontos a intervirem, quando por todo o país, qualquer amanuense com direito a poisar o cu gordo numa cadeira atrás de uma secretária de gabinete público-administrativo, pode arrogar-se no direito de vexar qualquer cidadão, ciente de que no país reina a impunidade dos "donos disto tudo e seus rafeiros amestrados"...