
O Souto ficou mais escasso, para os quase 7.000 fregueses em 1951
(quando S. Vicente ainda com Alferrarede agregada somava 8.500 habitantes)
Empreendedorismo é marca na História do Souto
Em 1951, as águas da albufeira do Castelo de Bode começaram a subir e a submergir as hortas, vinhas, pomares e olivais. As azenhas e os lagares na foz da Ribeira da Brunheta, da Ribeira do Souto e Ribeira de Codes, também não escaparam à submersão. Estas três ribeiras (já referidas nos Inquéritos Paroquiais de 1758) eram as principais linhas de água em toda a freguesia do Souto. Freguesia que tal como em 1758, também em 1951, se estendia desde a freguesia da Aldeia de Mato, a poente, até Vila de Rei a nascente, tendo a freguesia de S. Vicente e o concelho do Sardoal a sul.
O labor das gentes do Souto e da Aldeia de Mato, bem patente nesses enormes quilómetros de paredes a pedra seca – autêntica obra de engenharia - que sustentavam os tabuleiros de terra de cultivo plano, como que escavado às encostas que iam dar ao rio, foi o impedimento para que os pinhais não se aproximassem do leito do Zêzere. Daí, que a limpeza do novo leito da albufeira, não obrigasse ao corte de pinheiros, tendo-se verificado por regra, apenas o arranque de oliveiras cujos pés rumaram até ao Alentejo, para reprodução e venda. A floresta de pinheiros começava no planalto mais afastado do casario e estendia-se até Vila de Rei, Sardoal e Abrantes.
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Em 1951, as águas da albufeira do Castelo de Bode começaram a subir e a submergir as hortas, vinhas, pomares e olivais. As azenhas e os lagares na foz da Ribeira da Brunheta, da Ribeira do Souto e Ribeira de Codes, também não escaparam à submersão. Estas três ribeiras (já referidas nos Inquéritos Paroquiais de 1758) eram as principais linhas de água em toda a freguesia do Souto. Freguesia que tal como em 1758, também em 1951, se estendia desde a freguesia da Aldeia de Mato, a poente, até Vila de Rei a nascente, tendo a freguesia de S. Vicente e o concelho do Sardoal a sul.
O labor das gentes do Souto e da Aldeia de Mato, bem patente nesses enormes quilómetros de paredes a pedra seca – autêntica obra de engenharia - que sustentavam os tabuleiros de terra de cultivo plano, como que escavado às encostas que iam dar ao rio, foi o impedimento para que os pinhais não se aproximassem do leito do Zêzere. Daí, que a limpeza do novo leito da albufeira, não obrigasse ao corte de pinheiros, tendo-se verificado por regra, apenas o arranque de oliveiras cujos pés rumaram até ao Alentejo, para reprodução e venda. A floresta de pinheiros começava no planalto mais afastado do casario e estendia-se até Vila de Rei, Sardoal e Abrantes.
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Acantonados pela subida das águas, com menos terras de cultivo, o sustento das gentes do Souto (e de toda a gente da margem esquerda do Zêzere no Concelho de Abrantes, para situarmos melhor a questão) tornou-se ainda mais aflitivo. Havia já a tradição das viagens até Lisboa nas obras de construção, cujo apogeu começou com o Engº Duarte Pacheco (o super dinâmico presidente da Câmara de Lisboa e em simultâneo Ministro das Obras Públicas do governo de Salazar) nos anos 30 do século XIX.
Essa tradição havia trazido a experiência profissional nos ofícios da construção e o conhecimento do terreno em Lisboa. O arranque espectacular da construção nos anos 30, principalmente, nas Avenidas Novas e Bairro de Alvalade (a urbanização a sul da Rua Alferes Malheiro, hoje avenida do Brasil, como então era designada) foram o factor determinante, para o encaminhamento quase que obrigatório dos soutenses que quisessem sair da terra. Essa actividade industrial, na altura um domínio dos vizinhos tomarenses, – os mestres pedreiros de Tomar – facilitou as coisas.
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Quando surgiram as indemnizações pelas terras alagadas, pese o pouco dinheiro recebido, toda a gente percebeu que não havia muito mais espaço onde investir na freguesia. Nem a autarquia, nem o governo à época tomaram qualquer iniciativa para recolher essa gente e encaminhá-la para um parque industrial, nos moldes em que hoje se conhecem. Não era chegado tão pouco, o tempo da aposta turística, só mais tarde conhecida, mas sempre ignorada. Entretanto, surgiu o PDM que se antecipou à capacidade empreendedora, pese ter sido presa fácil do Poder Local nos anos 90, mas essa história virá mais tarde. Importa agora fixarmo-nos nesta questão: nos anos 50 apenas restava o negócio fora da terra.
O comércio tradicional (lugares de hortaliça, mercearias, leitarias e cervejarias), e acima de tudo, as “sociedades” na construção de prédios para venda em Lisboa e arredores foram as aplicações mais apetecidas e possíveis naquela época.
Pese todo o infortúnio das sucessivas crises, que atacaram o sector da construção, sempre fértil em desaires económicos e falências, antes e depois desses anos 50, sempre a freguesia do Souto, ( e na Aldeia de Mato passava-se algo muito semelhante) acabou por recolher o produto dessas aventuranças empresariais. O sucesso e o insucesso da construção civil por Lisboa, sempre se reflectiram – para o bem e para o mal – na vida económica e na vida social da freguesia. Um bom negócio em Lisboa ( um emprego mais estável também se reflectia na terra) e lá aparecia mais uma casa nova na terra e mais uma boa “fazenda” amanhada.
Quando surgiram as indemnizações pelas terras alagadas, pese o pouco dinheiro recebido, toda a gente percebeu que não havia muito mais espaço onde investir na freguesia. Nem a autarquia, nem o governo à época tomaram qualquer iniciativa para recolher essa gente e encaminhá-la para um parque industrial, nos moldes em que hoje se conhecem. Não era chegado tão pouco, o tempo da aposta turística, só mais tarde conhecida, mas sempre ignorada. Entretanto, surgiu o PDM que se antecipou à capacidade empreendedora, pese ter sido presa fácil do Poder Local nos anos 90, mas essa história virá mais tarde. Importa agora fixarmo-nos nesta questão: nos anos 50 apenas restava o negócio fora da terra.
O comércio tradicional (lugares de hortaliça, mercearias, leitarias e cervejarias), e acima de tudo, as “sociedades” na construção de prédios para venda em Lisboa e arredores foram as aplicações mais apetecidas e possíveis naquela época.
Pese todo o infortúnio das sucessivas crises, que atacaram o sector da construção, sempre fértil em desaires económicos e falências, antes e depois desses anos 50, sempre a freguesia do Souto, ( e na Aldeia de Mato passava-se algo muito semelhante) acabou por recolher o produto dessas aventuranças empresariais. O sucesso e o insucesso da construção civil por Lisboa, sempre se reflectiram – para o bem e para o mal – na vida económica e na vida social da freguesia. Um bom negócio em Lisboa ( um emprego mais estável também se reflectia na terra) e lá aparecia mais uma casa nova na terra e mais uma boa “fazenda” amanhada.
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A história do Souto está desse modo associada, pelo menos, de forma mais acentuada desde os anos 50, ao empreendedorismo nas diferentes tarefas que compõem a actividade da construção civil: aluguer e venda de máquinas e ferramentas, fabricação e venda de materiais de construção, carpintaria, serralharia e toda a ordem de tarefeiros nas artes de pedreiro, carpinteiro, ladrilhador, estucador, electricista, canalizações, até aos promotores imobiliários. Com esta genuína particularidade, os negócios corriam por Lisboa, mas as gentes não deixavam de pensar na sua terra, como destino último – não necessariamente e apenas, em relação ao cemitério.
Será bom não esquecer, que os pequenos e médios negociantes de frutas e madeiras e os comerciantes mais prósperos não deixaram de espreitar o “negócio da construção” em Lisboa. Foram muito comuns os investimentos desses empresários locais, que continuando a desenvolver os seus negócios no Souto, onde residiam habitualmente, não deixaram de ter a sua “sociedade” por quotas (as “cabeças e meias-cabeças”, como se designavam as quotas à medida do dinheiro de cada um, onde 50 contos eram uma “cabeça” e com 150 contos já se colocava o ramo de oliveira num telhado de um prédio, depois de erguidos os três ou quatro pisos; o ramo de oliveira era o sinal de sucesso no empreendimento acabado de erguer, de seu nome: o pau de fileira) - com outros conterrâneos, pedreiros e carpinteiros agora todos associados como empreiteiros e construtores em Lisboa, a trabalharem lado a lado durante sete dias da semana.
A história do Souto está desse modo associada, pelo menos, de forma mais acentuada desde os anos 50, ao empreendedorismo nas diferentes tarefas que compõem a actividade da construção civil: aluguer e venda de máquinas e ferramentas, fabricação e venda de materiais de construção, carpintaria, serralharia e toda a ordem de tarefeiros nas artes de pedreiro, carpinteiro, ladrilhador, estucador, electricista, canalizações, até aos promotores imobiliários. Com esta genuína particularidade, os negócios corriam por Lisboa, mas as gentes não deixavam de pensar na sua terra, como destino último – não necessariamente e apenas, em relação ao cemitério.
Será bom não esquecer, que os pequenos e médios negociantes de frutas e madeiras e os comerciantes mais prósperos não deixaram de espreitar o “negócio da construção” em Lisboa. Foram muito comuns os investimentos desses empresários locais, que continuando a desenvolver os seus negócios no Souto, onde residiam habitualmente, não deixaram de ter a sua “sociedade” por quotas (as “cabeças e meias-cabeças”, como se designavam as quotas à medida do dinheiro de cada um, onde 50 contos eram uma “cabeça” e com 150 contos já se colocava o ramo de oliveira num telhado de um prédio, depois de erguidos os três ou quatro pisos; o ramo de oliveira era o sinal de sucesso no empreendimento acabado de erguer, de seu nome: o pau de fileira) - com outros conterrâneos, pedreiros e carpinteiros agora todos associados como empreiteiros e construtores em Lisboa, a trabalharem lado a lado durante sete dias da semana.
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Essas sociedades entre o poder económico local e os filhos da terra espalhados laboriosamente por Lisboa mais asseguraram o fermento desses laços de ligação à terra. Depois, é bom não esquecer os anciãos que ainda residiam pelo Souto, que não só mantinham as terras amanhadas, como ainda incutiam nos trabalhadores e novos empresários agora mais por Lisboa o gosto desse amanho das terras, deixando essa ideia mais inculcada no espírito das pessoas de que o futuro mais certo e seguro, tanto quanto se podia imaginar na altura, passava por manter a ligação às propriedades locais: a terra.
Essas sociedades entre o poder económico local e os filhos da terra espalhados laboriosamente por Lisboa mais asseguraram o fermento desses laços de ligação à terra. Depois, é bom não esquecer os anciãos que ainda residiam pelo Souto, que não só mantinham as terras amanhadas, como ainda incutiam nos trabalhadores e novos empresários agora mais por Lisboa o gosto desse amanho das terras, deixando essa ideia mais inculcada no espírito das pessoas de que o futuro mais certo e seguro, tanto quanto se podia imaginar na altura, passava por manter a ligação às propriedades locais: a terra.
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Nada disso sucede hoje em dia.
Nada disso sucede hoje em dia.
E os incêndios das últimas duas décadas, não deram mais espaço para haver certeza alguma, quanto ao destino das nossas terras. Abrantes está hoje, entre os doze concelhos do país com mais área ardida nos últimos 25 anos. E neste imenso espaço geográfico municipal, surpreende a satisfação tacanha de quem apresenta um novo quartel no centro das maiores encruzilhadas da cidade: a avenida D. João I.
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(continua)
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(continua)