A evolução da minha opinião, de severo crítico até à aceitação do projecto foi reforçada por várias alterações e explicações dadas pelo arqº Carrilho da Graça um ano depois. Estava fora da discussão, - com o arquitecto - o aspecto da sustentabilidade da obra, como museu.
Em vez de empenas cegas, passava a haver várias janelas; os acessos ao Centro Histórico passaram a ser valorizados e dados como indispensáveis; a valia da colecção era mesmo determinante. Isso veio ele dizer um ano depois, em 25 de Junho de 2009.
Mas falta outra razão, que surgiu durante a explicação do arquitecto, em 2009, quando a dado passo ao mostrar umas fotos das paisagens panorâmicas em redor, que quis valorizar, ao mesmo tempo que sem dar conta disso, acabava por incorrer numa contradição, quando confessou nunca ter construído uma torre.
Então, pensei logo, o arquitecto não podia explicar a maravilha dessas panorâmicas. Porque só quem teve a experiência de ver crescer um edifício em altura, poderia avaliar a verdadeira riqueza panorâmica que se vai conquistando, de piso para piso. Por cada piso a mais, surgem outros "horizontes" até aí desconhecidos. Quem subir ao telhado da sua casa vê logo essa diferença....
Logo as fotos, que apresentou, estavam muito longe de poderem representar as panorâmicas. As fotos foram todas tiradas do piso térreo, logo seriam muito diferentes das tiradas do meio da torre ou do cimo da torre.
Quem estivesse virado para sul, via muito além do Rossio, talvez mesmo muito para além de S. Facundo ou Vale das Mós. No cimo da torre para sul avistar-se-ia a Bemposta e talvez os braços da barragem de Montargil. Virados para Norte, do cimo da torre já se podia avistar algumas ramificações da albufeira do Castelo de Bode.
Saíu-me logo, aquela frase - a altitude sempre foi uma matriz fundacional em Abrantes, pois foi pela altura que Abrantes se fez grande diante dos vizinhos, e ao dizê-lo estava mesmo a pensar nessas grandiosas panorâmicas, que ainda ninguém soube avaliar.
É estranho como na tarefa de "atacar" uma torre, nunca ninguém tenha ainda observado a incongruência de uma análise tão deficiente, que tem deixado de lado aquelas panorâmicas a conquistar, que nos podiam mostrar a Serra da Estrela, o Castelo de Bode ou a barragem de Montargil. Se por acaso, não seria de "ferir" mais as susceptibilidades, quem abdicava dessa riqueza e não quem argumentasse com a "ferida" da torre no meio das casas velhas ou das casas condenadas a "morrerem" abandonadas com a própria decripitude da cidade de Abrantes.
Porque as cidades também morrem... e não só, como os incas do Perú.