Mas não é só por isso, que centro hoje a atenção num vereador local, que já esteve próximo de uma candidatura onde era o primeiro a integrá-la, a seguir ao cabeça de lista e ao cunhado do líder da concelhia.
A minha observação, centra-se em três pormenores do mesmo articulista.
1º - Como tem posses, conduz um carro topo de gama, quando há poucos anos dizia que eu tinha um carro à "facho", defende que quem como ele é detentor de um emprego ( por acaso, um duplo emprego do Estado: professor efectivo e vereador que sempre aufere em senhas de presença o equivalente ao ordenado mínimo nacional, que 30 % - um terço dos portugueses - nem sequer chega a obter esse nível mínimo de remuneração) pode aceder a níveis de seguro de doença privados, não deveria contribuir para a segurança social, como todos os trabalhadores por conta de outrém; justifica-se, dizendo que não usando ele o SNS, está a pagar um serviço que não utiliza, isto é, paga a dobrar; nem vou agora discutir se nesse serviço privado, só numa operação ou num tratamento com a qualidade prestada e paga por essa entidade seguradora, não se colhe de uma assentada todos os prémios pagos por um pacote de prémios em meia dúzia de anos de segurado-beneficiário; mas há situações em que uma vida atempadamente socorrida vale por todos os pagamentos desembolsados com o seguro privado;
2º - Depois apresenta toda uma panóplia de troféus sobre as virtualidades do ensino público a par da opção pelo privado, sem contudo se redimir por ser assalariado a um nível superior, num serviço que a OCDE vem classificando como pior que a Turquia e em penúltimo lugar, só porque no México há o homem mais rico do mundo Carlos Slim e muitos coronéis do narco-tráfico; tão pouco, conseguiu apagar da minha memória o texto que escreveu há um ano, defendendo que as crianças que fossem problemáticas, não deveriam beneficiar das benesses da cantina e de outros apoios sociais veiculados pelas escolas e pela assistência social - não comiam a sopa!
3º - Defende os despedimentos, por razões atendíveis, como na proposta de revisão constitucional do PSD de Passos Coelho, mas nunca refere que o despedimento pudesse ser extensivo à classe do professorado ao serviço da escola pública, a que pertence, nem admite como razão "atendível" para despedimento como professor, os fracos níveis de qualidade do ensino que a implacável e isenta OCDE vem apontando para Portugal, muito inferiores aos da média da CE e só melhores do que o México; nem nunca ofereceu um quinto do seu salário para encontrar uma solução para a melhoria do ensino, do qual depende economicamente e sem atender a resultados, é desse mau ensino que vai obtendo o salário que lhe dá acesso a outro patamar de saúde.
Cada um é livre de tratar da sua vida e de a governar como entende. Não imponho condicionamentos dessa espécie, nem nunca foi essa a minha matriz ideológica. Simplesmente, por coerência, quem vem defender o sol na eira, não pode depois recusar a chuva no nabal.
O que me choca, é esta artificialidade de quem sai a comentar situações generalistas e depois reserva para si, um nicho de excepções corporativas e sectárias, ao qual jamais admitiria tocar ou prescindir, para se situar ao mesmo nível do comum dos cidadãos.
O que me choca é que são estas mesmas pessoas que vêm fingindo ocupar a "cidadania de oposição", desacreditando ainda mais o sistema de poder local, pois acabam por nivelar tudo por baixo, fazendo da valiosa alternância democrática um mero expediente rectórico, desprestigiado e desclassificado, muito ao jeito da máxima do velho parlamentar Brito Camacho. O tal que disse, que aquela coisa que a gente sabe é sempre a mesma, o que muda são as moscas...
Com estes princípios desvalorizados e enlameados, o poder não muda mesmo nada.