Um professor que se diz "normal" obteve nos últimos três anos taxas de sucesso próximas dos 100 por cento em Físico-Química. Alexandre Costa, da Escola Secundária de Loulé, recebeu ontem das mãos da ministra da Educação o Prémio Nacional de Professores, atribuído pelo terceiro ano consecutivo. A distinção revela um docente que não gosta de ser visto pelos alunos como um "professor porreiro", mas como alguém que se "esforça para ajudá-los na aprendizagem" e espera que estes lhes retribuam na mesma moeda.
"Não sou muito dado a essas coisas [exposição mediática]." Desta vez teve de ser. "Está ali o laureado", dizia um colega, a brincar, conhecedor que era do habitual estilo low-profile do professor. O que faz no dia-a-dia? "Sou um professor normal. O que tento sempre é envolver os meus alunos."
E é nesse "envolvimento" que parece residir o sucesso dos seus métodos. O professor de Físico-Química, faz das aulas uma lição e uma experiência de vida partilhada. "Tento sempre que os alunos sintam que a disciplina está relacionada com o seu quotidiano, apresentando exemplos e fazendo demonstrações." Nos últimos tempos, terramotos e tsunamis animaram as aulas.
Com 45 anos e 18 de carreira, Alexandre Costa só tem uma fórmula para o sucesso escolar: "Trabalho." A este propósito, confessa que gosta de citar uma frase de Kennedy acerca da ida à Lua: "Vamos fazê-lo, não porque é fácil, mas porque é difícil." Uma das coisas que os alunos têm de compreender, sublinha, "é que a disciplina não é fácil". Razão pela qual lhes lança constantemente desafios para que observem "o que se passa à sua volta, os fenómenos naturais".
O professor, diz, "tem de funcionar um pouco como o vendedor - tenho de os convencer que aquilo é útil e que vai sempre fazer falta nas suas vidas". No final do ano lectivo, os resultados falam por si: "O sucesso escolar foi próximo dos 100 por cento, nos últimos dois anos creio mesmo que atingiu os 100 por cento", conta.
O "professor do ano" não é conhecido apenas por dar aulas. Aliás, o reconhecimento público é em grande medida o resultado do somatório de actividades fora da sala de aula. Além de ser editor da Associação Europeia para o Ensino da Astronomia, produz manuais escolares, dinamiza Centros de Ciência Viva, promove observações astronómicas, dá palestras e ainda arranja tempo para fazer de agente de viagens. Todos os anos programa uma visita de estudo a cidades europeias com instituições ligadas à ciência. Há três anos, recorda, uma agência de viagens pediu 700 euros por aluno, para levar um grupo a Londres, durante uma semana. Optou por ser ele próprio a organizar a excursão e reduziu o preço para 279 euros. A partir desses encontros no exterior e da descoberta do mundo da ciência, enfatiza, "cria-se uma certa cumplicidade e é mais fácil trabalhar com os alunos". "Ser professor não é só dar aulas."
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Nem ir para vereador da câmara... e acabar nos SMA, na Rádio ou nos jornais locais. SABIAM?