Não vai adiantar muito, quer o colégio eleitoral dessas primárias se cinja apenas a militantes ou mesmo, caso seja alargado, (?! ) - não se sabe como - a simples simpatizantes do PSD, uma coisa muito difícil de precisar e de definir.
Até podia dar como exemplo a minha tentativa de disputar as eleições da concelhia do PSD em 2004, como a prova provada, de que as primárias não passarão de um embuste, onde à partida está sempre pré decidido o vencedor do "sistema".
Eu tinha sido vereador, juntei como vice-presidente um outro ex-vereador, tinha na lista vários eleitos municipais, dois presidentes de junta de freguesia, um ex- presidente de Junta, o mandatário tinha um largo passado no PSD, como autarca municipal, e como deputado ao Parlamento. Tinha ainda um ex-oficial superior que era militante. Todavia, bastou ao meu opositor contactar um a um, os 189 militantes com direito a voto, para obter a seu favor, 85 votantes. Na minha lista apenas votaram 44 militantes. Abstiveram-se 60 militantes com as quotas em dia. Essas abstenções, já serviam ao meu opositor. Se eles não fossem votar, o meu opositor ganhava. E tanto foi assim, que ganhou, ao garantir essa "neutralidade podre", quando não é suposto faltarem às urnas nesse partido mais de metade dos militantes com as quotas pagas.
É que não se tratou de terem faltado ao acto eleitoral os 450 militantes existentes à data.
Dos 450 militantes, só 189 é que pagaram as quotas para poderem exercer o direito de voto. Contactados entre aqueles 189, os que não eram dados como potenciais votantes no meu opositor, a partir daí, quem fosse votar seria sempre "suspeito" ou apontado como meu votante. Com as coisas naqueles pressupostos jacobinos, de que quem votasse em mim era "inimigo da causa", 60 militantes com direito a voto, optaram por não irem às urnas, não fossem levantar suspeitas, e atarir o "odioso" sobre eles. Pois nunca se sabe quando poderiam precisar deste ou daquele favor e serem acusados. Não indo votar até era mais seguro para esses 60 abstencionistas, quando recaía sobre esses 60 militantes a suspeita de uma eventual simpatia pela minha lista.
Não irem votar era a prova mais fácil, de poderem afastar suspeitas de terem votado na minha lista e contra o meu opositor, tido como o "puro do regime".
É com esta imagem de democraticidade tão degradada que atravessa qualquer partido, que se pode prever que as eleições primárias não têm qualquer hipótese de gerar maior transparência partidária. Todos sabemos que nas primárias americanas temos uma grande parcela de militantes e simpatizantes, mas que não se resumem a 189 ou um milhar, numa terra onde todos se conhecem e se temem os mais poderosos. As primárias até poderão ter um efeito perverso e absolutamente contrário ao desejado.
Nos EUA temos milhões nas primárias. Num universo desses, já não há tanto poder efectivo dos caciques feitos "controleiros". Mas ainda assim, é bom sublinhar que o sistema eleitoral americano vai às primárias buscar as percentagens para nomear um " Grande Júri Nacional" , que no acto eleitoral definitivo, ainda poderá inverter o sentido do voto depositado nas urnas. George W. Bush "ganhou" a presidência, embora fosse o seu adversário democrata a ter maior número de votos. BUSH recolheu mais votos dos delegados do tal "Grande Júri".
Em Lisboa, Porto e nos concelhos limítrofes, ainda vá que não vá. Agora nos restantes concelhos e em algumas capitais de distrito, nada irá resultar, como se faz crer aos mais incautos e mais ingénuos.
Os duarteslimas, os isaltinos, os valentins terão sempre o favoritismo em quaisquer primárias. É que um qualquer resistente, sempre acabará por ser "aconselhado" em caso de indecisão no voto nesses figurões a garantir ao menos, a sua abstenção, não comparecendo ao acto eleitoral. Pois, com um universo eleitoral concelhio tão pequeno, quase que se pode identificar o sentido de voto de cada militante, com a lista das descargas no caderno eleitoral à frente. Este, aquele e mais o outro vieram votar?! Então é certo e sabido que votaram em A ou faltaram ao voto em B.
Não há volta a dar-lhe...
Como diz um amigo meu do Mação, todos os votantes deviam assinar o boletim de voto. Assim, caso falhassem os eleitos, sempre sabíamos a quais dos eleitores havíamos de exigir responsabilidades...