Em séculos de história da freguesia de Rio de Moinhos, seguramente, nunca terá acontecido uma cerimónia com tão elevado grau de cinismo e de desprezo pelos sentimentos de centenas de fregueses, senão mesmo milhares, se aos eleitores juntarmos com toda a justiça, todos aqueles que um dia nasceram e hoje em dia vivem por esse mundo fora.
Claro está, que os 21 elementos da banda estavam ali para tocar. Talvez que no intervalo dos acordes, alguns ainda tenham tido tempo para meditarem ou esboçarem uma breve tentativa de cálculo algébrico, até descobrirem quantas centenas de instrumentos se podiam comprar para a banda, com os cento e tal mil euros do custo daquele espantalho.
Apostava, - um contra mil! - em como aqueles dois autarcas nunca chegaram a tão elementar raciocínio. Porque se tivessem iniciado um raciocínio dessa natureza, nunca aquela obra teria sido erguida.
A falácia do título - " centro de interpretação do Tejo"! - mostra bem, quanta estultícia rodeou toda aquela encenação.
Porém, a cara de caso dos cerca de quarenta espectadores não deixou margens para dúvidas quanto ao desencanto daquela palhaçada. E lá subiram para a escadaria para ouvir a banda. E enquanto ali estiveram sentados, Rio de Moinhos ficou para trás das costas. Os autarcas sempre apreciaram a obra precisamente, por essa implantação que fazia os fregueses esquecerem a terra e perderem-se na imensidão das águas que durante séculos rumaram ao mar, que poucos conheceram.
Agora, já podem interpretar o Tejo: ridícula e obscena profecia.
E ninguém interrogou os autarcas. Quanto mais não fosse para avaliarem a sua grada ignorância sobre a vivência de uma terra, que eles fizeram crescer para o rio, sem se mexer num acesso rasgado desde o Largo do Rossio de Rio de Moinhos até ao local do Cais. Aquela escadaria não podia ser mais elucidativa quanto à tacanhez autárquica, de quem colocou aquela escassa meia centena de fregueses de costas voltadas para a sua própria terra. Sinais dos tempos. E que tempos negros nos esperam. Com gente desta reduzida visão, não há mais nada de bom a esperar.