Situemos os factos, à época - 1975, 24 anos passados sobre a construção da barragem do Castelo de Bode e de centenas de hectares submersos - onde a água era carregada por regra em cântaros de 15 a 25 litros, à cabeça das mulheres dessas freguesias do Norte do concelho.
Água para toda a família beber, cozinhar, e ainda usar nas lavagens e cuidados de higiene, e ainda na alimentação dos animais, que existiam em todos os quintais, chegando também a ser usadas nas pequenas regas de canteiros e plantas que nunca faltaram, nem deixaram de florir, à porta de cada casa.
Carregar água em cântaros à cabeça foi um esforço contínuo, a que as mulheres foram obrigadas a suportar, diante da indiferença monstruosa do poder municipal.
Que poder local foi este, que nada fez para ajudar estes investimentos na captação de água, todos eles suportados pela quotização dos fregueses. Como é que foi possível esta afronta, em plena vigência da Constituição de 1976?
Atente-se que os abastecimentos de água ao domicílio por parte dos SMAS só começaram no Souto sede, em 1985, - dez anos após o funcionamento da cooperativa do Souto - e em Bioucas cerca de dois anos depois.
Na sede da freguesia da Aldeia de Mato já havia água em fontanários, desde 1960. Mas na Carreira de Mato, só nos anos de 1990 é que a água chegou aos moradores, e pelo preço que se sabe: o mais caro de todo o distrito de Santarém.
Pois bem, para o poder municipal era como se nada disso interessasse ou merecesse atenção cuidada.
Porque não era só o PS no poder local a desinteressar-se desses problemas. O PSD que colhia a maioria de votos no Norte do concelho, chegado à oposição municipal que sempre dominou, nada dizia ou fazia quanto a essa situação.
Para perceber a total indiferença do poder municipal, basta apontar a omissão da Protecção Civil Municipal, em estudar a aplicação de regras de utilização das águas captadas e depositadas nos enormes depósitos dessas cooperativas, já dentro das quatro povoações em causa: Souto, Bioucas, Aldeia de Mato e Carreira de Mato, onde várias vezes ao ano, as mesmas se viam cercadas por um ou mais fogos ameaçadores.
A água para os auto-tanques iam buscá-la ao Sardoal ou a Abrantes, porque nem caminhos criavam em condições de estabelecerem acessos capazes, até às zonas ribeirinhas.
Pasme-se, como o poder municipal ainda hoje se mantém indiferente a todas as iniciativas dos fregueses, em prol do bem estar social das suas terras.
Este poder local não serve, senão a clientelas sócio-profissionais muito específicas, quase sempre do núcleo de amigos no poder.
O desenvolvimento do país não pode ficar mais tempo refém desta gente.