... Para que conste, em Janeiro de 1976 fui como secretário geral da CIdas numa 2ª feira de manhã à Câmara, em resposta à intimação da CMA.
Os desaterros no espaço da Sociedade Recreativa, depois desta ter autorizado em reunião de Assembleia Geral de sócios, já haviam começado, para dar resposta aos anseios dos sócios da CIDAS, que já haviam entregue cerca de 2.000 contos, para subscrição das suas acções.
O processo de captação havia recolhido um apoio entusiasmado do chefe da Hidráulica do Tejo, da Secção de Abrantes, Sr. Barata Gil, pelo que faltava o despacho municipal.
E é nesta reunião na Câmara, comigo e com o engº chefe dos serviços, que o presidente da Comissão Administrativa Engº Bioucas me informa da sua intenção em chumbar o projecto de captação.
Argumentava que esse projecto iria contra a rede de distribuição de águas domiciliárias, cujas captações nunca mais findavam nos lameiros da Bouça.
Contra-argumentei, que pelo contrário a água da CIDAS vinha complementar a distribuição futura dos SMAS, para que os 80 litros por pessoa da estimativa da captação da Bouça não se revelassem demasiado insuficientes, especialmente no verão, tal como acontecera com grande alarido, um ano antes, na rede domiciliária do Pego, quando toda a gente usava essa água para regar os seus quintais.
Concluí, que com a CIDAS a água domiciliária não seria desviada para regas, o que evitava o desbaratar de um líquido tão preciso em actividades estranhas à rede doméstica.
Contra atacou o engº chefe, de que a Cidas estava a concorrer contra a rede dos SMAS, pois nos estatutos da Cidas era escrito, que a cooperativa iria instalar uma rede de canos por todas as ruas da sede de freguesia, para abastecer as propriedades dos sócios.
Imediatamente respondi, que não conhecia outra forma de fazermos chegar a água de rega às propriedades dos sócios, que na prática confinavam nos seus quintais, com as ruas do Souto sede. Nem estava a ver como iríamos fazer outro tipo de distribuição, nomeadamente atravessando pelo meio ou pelo fundo dos quintais, o que era contraproducente, já que se perdiam as cotas mais elevadas do pl,analto do Souto, para se descer à meia encosta ou aos vales, onde já não havia ponto para a rega.
Continuavam os dois engenheiros a mostrar resistência. E quando o Engº Bioucas reamta dizendo que tinha muita pena mas não iria autorizar, enchi o peito de ar, pensei naqueles 250 sócios sedentos de água, nas centenas de mulheres a carrregarem anos e anos os cântaros à cabeça e disparei:
- Mas desde quando é que nós, o povo do Souto precisamos da sua autorização ou da permissão da Câmara para irmos buscar a nossa água que escorrega para a albufeira e trazê-la para as nossas terras no planalto, onde precisamos de criar regadios?
Com a sua autorização ou sem ela, a gente vai continuar com a obra, pois neste momento, os sócios não iriam aceitar de boa vontade, a devolução dos 2 mil contos das suas quotas.
O engº Bioucas ficou apreensivo e pensativo. E lá se voltou para o engº a perguntar-lhe como é que podemos resolver isto. O engº chefe lá consentiu se eu assinasse uma declaração em como aquela água era mesmo para rega.
Claro que assinei. Aquela declaração, diga-se de passagem, valia o que valia. Não seria eu nem ninguém que iria verificar a toda a hora se alguém com aquela água, despejava o autoclismo, tomava banho ou cozia as batatas.
E assim se fez a distribuição de água no Souto e se abriu caminho para as cooperativas de Bioucas, Aldeia de Mato e Carreira de Mato. No caso do Souto, a água da Cidas surgiu 10 anos antes da água domiciliária da Bouça.
Este poder local sempre se mostrou incompetente.
Antº. Costa " esticou " demasiado a corda resumindo todo o problema à limpeza da floresta. Mas a que vai ser feita pelos privados. Pura falácia. O Estado, ainda tem muito mais a fazer. Faltam condições de dignidade social e económica aos rurais. Sobra muita floresta onde escasseia árvores de fruta, vinha e criação de gado. Uma vida equilibrada, rica e variada. Marcelo não escondeu quanto o segundo relatório aprofundou em relação ao anterior. Ainda havia (e há!) coisas por saber.
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INICIADO em 27.10.2007